Menos de um mês antes de ter sido detido em Budapeste pelas autoridades húngaras, a 16 de janeiro de 2019, depois de Portugal ter emitido um pedido de extradição com base na criação da plataforma eletrónica Football Leaks, através da qual foram divulgados milhares de documentos confidenciais do mundo do futebol e alegados esquemas de evasão fiscal cometidos em diversos países, Rui Pinto, na altura ainda apenas reconhecido pelo seu pseudónimo, "John", foi contactado pelas autoridades suíças para que facultasse informações sobre Gianni Infantino, presidente da FIFA.

A história é contada pelo Público, que revela hoje que esta troca de correspondência via e-mail foi adicionado ao processo em Portugal no qual Rui Pinto responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

No contacto das autoridades suíças, o procurador Damian K. Graf, do cantão de Valais, uma região a sul de Berna, explicou que estava a investigar os factos divulgados pelo Football Leaks, em especial as alegações dirigidas a Infantino, que teria dado vantagens indevidas a um outro magistrado helvético, Rinaldo Arnold, para assim conseguir reunir-se com Michael Lauber, o Procurador-Geral da Suíça, com o objetivo de fazer desaparecer uma investigação sobre a concessão de um contrato de direitos televisivos a uma empresa offshore.

“Solicitamos que nos faculte quaisquer documentos relevantes sobre as alegações supramencionadas, particularmente quaisquer e-mails trocados entre Gianni Infantino e Rinaldo Arnold, assim como quaisquer e-mails que mencionem Rinaldo Arnold”

Pouco tempo depois, Rui Pinto respondeu ao contacto das autoridades, mostrando-se disponível para facultar os documentos.

“Caro Damian, estou totalmente disponível para colaborar nesta investigação criminal, mas a cooperação tem de ser feita através do meu advogado francês, William Bourdon. Por favor, entre em contacto com ele. Melhores cumprimentos, John.”

Mais tarde, a investigação aberta na sequência deste caso concluiu e provou que o procurador Lauber era “culpado de ter violado várias funções do cargo” por se ter reunido informalmente, ou seja, se exista um registo ou um relatório da reunião, com o presidente da FIFA por três vezes entre março de 2016 e junho de 2017. Infantino viria a reconhecer os encontros, mas sempre negou ilegalidades.

Ao mesmo tempo que ajudava as autoridades suíças, Rui Pinto oferecia às autoridades de Malta informações sobre as atividades do grupo Doyen Sports Investment, com ênfase para os empréstimos feitos pelo fundo de investimento a dirigentes desportivos a título particular.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

O julgamento ainda decorre.