“Há uma crise na saúde, uma crise social, para além da crise política. Devemos olhar para ambas com cabeça fria e resolvendo o que realmente importa (…). O Governo tem uma responsabilidade: chegar a um acordo e resolver o problema do SNS. Chama-se governar e esperamos que o Governo assuma essa responsabilidade”, disse Mariana Mortágua.

A líder bloquista, que falava aos jornalistas em Lisboa onde participou na Marcha nacional “Fim ao Genocídio. Palestina Livre, já!”, convocada Coletivo pela Libertação da Palestina, comentou os dados avançados hoje sobre a afluência às urgências do Hospital de Santa Maria para considerar perentoriamente: “Está na mão do Governo resolver este problema”.

“Temos o diretor do Santa Maria a apelar às pessoas para que não vão às urgências e liguem para a Linha Saúde24. Há muita gente que não tem possibilidade de ir ao médico de família e para quem a Linha Saúde24 pode não ser a resposta adequada e o país não pode continuar a viver, nem a enfrentar o Inverno com urgências fechadas”, disse Mariana Mortágua.

A Urgência Central do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN), em Lisboa, atendeu, na sexta-feira, 470 casos, o número mais elevado desde o início de outubro, estando a passar por um período “extraordinariamente duro”, disse hoje o diretor, João Gouveia.

De acordo com dados do CHULN os 470 episódios de urgência atendidos correspondem a um aumento de 50% em relação ao mesmo dia da semana anterior.

Em declarações à agência Lusa, o responsável disse que na região de Lisboa e Vale do Tejo “só há dois hospitais a dar resposta a algumas das valências mais exigentes”, o que faz com que a situação seja, resumiu, “extraordinariamente dura”.

“É necessário poupar e preservar estes hospitais”, disse João Gouveia que aproveitou para apelar aos utentes para que recorram a meios alternativos à urgência em caso de doença não aguda ou grave.

Mariana Mortágua recordou estes números e este apelo para considerar que “independentemente das eleições”, o Governo está em gestão e “tem obrigação de resolver a outra crise que está a acontecer que é a crise do SNS”.

“Está na mão do Governo resolver este problema agora e garantir que há médicos para todos os utentes que precisam de se deslocar a uma urgência”, referiu.

Questionada sobre se tem esperança que as negociações entre o Ministério da Saúde e os sindicatos, que vão ser retomadas na próxima semana, tenham frutos, Mariana Mortágua vincou a necessidade de se chegar a um acordo.

“Há mais de 18 meses que o Governo finge que negoceia com os sindicatos. Era muito importante que o Governo compreendesse que tem de conseguir reter médicos para que as pessoas que vão ao Serviço Nacional de Saúde tenham um médico para as atender. Para isso é preciso um acordo”, concluiu.

Dezenas de hospitais do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos, na sequência de mais de 2.500 médicos terem entregado escusas ao trabalho extraordinário, além das 150 horas anuais obrigatórias, em protesto após mais de 18 meses de negociações sindicais com o Governo.

Esta crise já levou o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, a admitir que este mês poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.