Belmiro de Azevedo “é um homem a quem o país muito deve”, porque “teve uma grande contribuição quer para a modernização económica do país quer para o desenvolvimento social”, afirmou Ramalho Eanes aos jornalistas, no Porto, junto à Igreja onde decorre a missa de corpo presente do empresário.

O antigo Presidente da República destacou os contributos dados por Belmiro de Azevedo “para a modernização enquanto grande empreendedor, homem capaz de cria riqueza e trabalho, homem capaz de aproveitar oportunidades e descobri-las e, depois, explorá-las com ambição, ousadia, risco e, sobretudo, competência”.

Foi também um homem que teve uma “ação exemplar e ímpar em matéria de liderança e de capacidade executiva”, disse, acrescentando que o país também lhe deve muito quando “transformou a Sonae numa grande e moderna escola de negócios, uma escola prática de gestão moderna, de liderança e de aquisição de capacidade de competências competitivas”.

O antigo chefe de Estado, que veio ao Porto prestar homenagem a Belmiro de Azevedo acompanhado da esposa, considerou que a independência que o empresário sempre mostrou ter perante o poder político “dá-nos uma lição que é exemplar”.

“Não há modernização e desenvolvimento sem empresas autónomas, sem empresas perfeitamente integradas na sociedade civil, sem empresas que, nessa situação, são capazes de manter um diálogo simultaneamente de colaboração, de exigência e, se necessário, de contestação”, disse.

Para Ramalho Eanes, a sua independência “mostrava que tudo isto se fazia e mostrava ainda que tudo isto é possível, mesmo em Portugal”.

Questionado se a sua forma de estar na vida o prejudicava, o antigo Presidente da República respondeu que “os factos respondem com evidência” à pergunta.

“Algumas vezes foi prejudicado pelo poder, por ter em relação ao poder esta posição distante, critica, que todos conhecemos”, sublinhou.

Classificando o empresário como “um homem muito especial”, Ramalho Eanes acrescentou que Belmiro de Azevedo era “extremamente simples, afetuoso e sempre muito crítico” dos seus próprios amigos e do país.

“Entendo ser uma posição salutar”, disse, considerando ainda que os portugueses podem aprender com o empresário “que um cidadão só o é efetivamente em plenitude quando dispõe de todos os direitos e responde à sua responsabilidade social”.

“Isto é, tudo fazer para preservar e contribuir para que a sociedade se desenvolva tão rápida e tão beneficamente quanto possível”, concluiu.

O empresário Belmiro de Azevedo morreu na quarta-feira aos 79 anos, depois de décadas ligado à Sonae, onde chegou há mais de 50 anos e que transformou num império com negócios em várias áreas e extensa atividade internacional.

Sem tolerância para a incompetência (“não aceito, nem por um nonagésimo de segundo, que alguém menos competente mande em mim – só na tropa, por obrigação, e na vida civil por decisão de órgãos de soberania”, disse citado numa biografia) e com afamada dedicação ao trabalho e a um estilo de vida “frugal”, Belmiro de Azevedo deixa três filhos, Nuno, Paulo e Cláudia, também relacionados com a Sonae, grupo de cuja presidência saiu formalmente em 30 de abril de 2015.