“O Presidente Biden tem um grande respeito pelo Papa Francisco e junta-se a ele nas orações pela paz na Ucrânia, que poderá ser alcançada se a Rússia decidir pôr fim a esta guerra injusta e não provocada e retirar as suas tropas do território soberano da Ucrânia”, afirmou um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América (EUA) citado pela agência noticiosa italiana Ansa.
“Infelizmente, continuamos a não ver nenhum sinal de que Moscovo queira acabar com esta guerra e é por isso que estamos empenhados em apoiar Kiev na sua defesa contra a agressão russa”, sublinhou o representante do Conselho de Segurança Nacional, órgão sob a alçada da Casa Branca (presidência).
Numa entrevista à televisão suíça divulgada no sábado, o Papa Francisco apelou às partes que tenham “coragem de levantar a bandeira branca e negociar” para pôr fim à guerra na Ucrânia “antes que as coisas piorem”, declarações que geraram controvérsia.
Após a divulgação da entrevista, a Santa Sé esclareceu que o Papa não estava a falar de rendição, mas sim de negociação
“A nossa bandeira é amarela e azul. Esta é a bandeira pela qual vivemos, morremos e triunfamos. Nunca levantaremos outras bandeiras”, declarou no domingo o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, numa mensagem publicada na rede social X.
“Quando se trata da bandeira branca, conhecemos a estratégia do Vaticano na primeira parte do século XX. Apelo para que evitemos repetir os erros do passado e apoiemos a Ucrânia e o seu povo na sua luta pela vida”, acrescentou, numa referência às acusações de silêncio da Santa Sé face às atrocidades cometidas durante a II Guerra Mundial.
No entanto, o chefe da diplomacia ucraniana disse esperar que Francisco “encontre a oportunidade de fazer uma visita canónica à Ucrânia”.
Antes, a embaixada da Ucrânia junto do Vaticano afirmou que durante a Segunda Guerra Mundial “ninguém falou de negociações de paz com Hitler”.
“É muito importante ser coerente! Quando falamos da Terceira Guerra Mundial, que estamos a viver, temos de aprender as lições da Segunda Guerra Mundial”, escreveu a representação diplomática nas redes sociais, segundo a agência espanhola EFE.
O primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que tem oficialmente mais de cinco milhões de membros na Ucrânia, também reagiu, sem mencionar de forma clara as declarações proferidas pelo Papa Francisco.
“A Ucrânia está ferida, mas rebelde! (…) Acredite, ninguém tem na cabeça a ideia de se render, mesmo onde os combates estão a acontecer hoje – ouça o nosso povo nas regiões de Kherson, Zaporijia, Odessa, Kharkiv, Sumy!”, disse Sviatoslav Shevchuk, no sábado, durante uma missa numa igreja de Nova Iorque, onde se encontra em viagem.
As palavras de Francisco provocaram críticas de alguns dos principais aliados de Kiev, incluindo da Polónia, um dos países mais católicos da Europa, da Letónia e também da Alemanha, todas no sentido de lembrar o direito à defesa da Ucrânia face à agressão russa, iniciada em 24 de fevereiro de 2022.
“Que tal, para equilibrar, encorajar [o Presidente russo Vladimir] Putin a ter a coragem de retirar o seu exército da Ucrânia? A paz viria imediatamente, sem a necessidade de negociações”, escreveu no domingo Radoslaw Sikorski, ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, numa mensagem na rede social X, acompanhada de um vídeo com as declarações do Papa.
Mais de dois anos após a invasão russa, a Ucrânia espera realizar em breve na Suíça uma cimeira sobre a paz, segundo a fórmula de Kiev, mas sem a participação de Moscovo.
A Turquia ofereceu-se na sexta-feira para acolher uma cimeira de paz entre Kiev e Moscovo durante uma visita do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Istambul, defendendo a participação de Moscovo.
“Qualquer proposta de resolução desta guerra deve partir da fórmula proposta pelo país que defende o seu território e o seu povo”, respondeu Zelensky à oferta do homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan.
A Ucrânia exige a retirada das tropas russas do seu território, incluindo da península da Crimeia, anexada em 2014, como pré-condição para negociações com Moscovo.
Moscovo respondeu à exigência ucraniana afirmando que Kiev tem de se conformar com a nova realidade.
Além da Crimeia, a Rússia anexou as províncias de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia depois de ter invadido a Ucrânia em fevereiro de 2022, desencadeando a guerra em curso, mas não controla nenhuma destas regiões na totalidade.
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