O sacerdote Mariano Naing, porta-voz da Igreja Católica local, afirmou, durante um encontro com jornalistas, que a imprensa internacional não terá acesso ao aeroporto de Rangum, a antiga capital da Birmânia, para efetuar a cobertura da chegada do pontífice ao país.
Do mesmo modo, ser-lhe-á vedado acesso à cerimónia de boas-vindas oficial que a líder de facto da Birmânia, Aung San Suu Kyi, vai oferecer na próxima terça-feira ao papa em Naypyidaw, a norte de Rangum e atual capital do país.
As restrições também incluem o acesso à reunião que o papa Francisco irá manter, no mesmo dia, com líderes religiosos locais.
Os ‘media’ oficiais birmaneses são os únicos que têm autorização para efetuar a cobertura jornalística desses atos.
As autoridades birmanesas invocaram “razões de segurança” para justificar as restrições, indicou Mariano Naing, citado pela agência de notícias espanhola Efe.
A visita do papa Francisco à Birmânia coincide com a crise humana desencadeada pela operação do exército birmanês contra a minoria muçulmana rohingya no estado de Rakhine, no oeste do país.
A ofensiva militar — que incluiu a morte de centenas de pessoas, múltiplas violações, queima de aldeias e de campos de cultivo e o abate de gado daquela comunidade — obrigou mais de 620 mil rohingya a procurar refúgio no vizinho Bangladesh desde finais de agosto.
Antes da campanha militar, os rohingya que habitavam no estado de Rakhine eram estimados em um milhão.
A Birmânia, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma comunidade apátrida considerada pela ONU uma das mais perseguidas do planeta.
Apesar de muitos viverem no país há gerações, não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais, além de enfrentarem uma série de privações, nomeadamente de movimentos. Em paralelo, o recrudescimento do nacionalismo budista nos últimos anos levou a uma crescente hostilidade contra eles, com confrontos por vezes mortíferos.
O papa Francisco vai cumprir no Bangladesh a segunda e última etapa da sua viagem à Ásia que, de acordo com alguns observadores, tem como objetivo mediar uma crise motivada pelo que as Nações Unidas qualificaram como uma operação de “limpeza étnica”.
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