Diz-se "100% de acordo" com a responsabilidade da igreja em ajudar as vítimas de abuso sexual a "refazerem as suas vidas".

Em entrevista ao Jornal de Notícias, o bispo do Porto, D. Manuel Linda adiantou que "na Conferência Episcopal de abril, vamos finalmente chegar a acordo sobre isso. Sobre a forma de as compensar financeiramente" as vítimas de abuso sexual.

Muito criticado por ter dito que não se justificava uma comissão para investigar os abusos na igreja católica — "Ninguém cria uma comissão para estudar os efeitos do impacto de um meteorito na cidade do Porto. É possível que caia aqui um meteorito? É. Justifica-se uma comissão dessas? Porventura, não" —, D. Manuel Linda pediu desculpa em 2022 pelas palavras e reitera que "jamais esteve em causa a condenação radical dos abusos".

"Estava convencido de que, com as estruturas que já tinha na diocese, podia resolver todos os problemas que surgissem", explica. Agora, assume agora ter ficado surpreendido com a dimensão dos abusos em Portugal.

"Mas não tenho ilusão, isto aconteceu com todos. O Papa Francisco, por exemplo, a respeito daquilo que aconteceu no Chile, ele próprio diz que estava longe de imaginar de facto a profundidade do problema e a sua extensão. Tenho de dizer que também fiz uma aprendizagem a partir dos casos que iam sendo revelados", disse nesta entrevista.

Esta é uma "ferida que dói, dói muito" na igreja, mas, defende, "agora, esta ferida aberta é o indispensável para que se deite lá os antisséticos, para que ela seja curada".

Pelo menos 12 vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa já avançaram com pedidos de indemnização.

Segundo a nota enviada à comunicação social em março deste ano pela estrutura coordenada pela psicóloga Rute Agulhas, o Grupo Vita, “diversas pessoas mantêm um processo de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico regular, sendo que 12 solicitam uma reparação financeira”.

Em entrevista à Lusa, publicada no dia 17 de fevereiro, Rute Agulhas revelou que existiam então oito vítimas que tinham apresentado pedidos de indemnização, um número que subiu um mês depois para 12.

Criado em abril de 2023, o Grupo Vita pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (915090000) ou do formulário para sinalizações no ‘site’ www.grupovita.pt.

O Grupo Vita surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.

*Com Lusa