"Nós consideramos que os relatos sobre o que aconteceu em Timor, quando Pereira Gomes era chefe de missão, são muito graves e, portanto, devem fazer o Governo reconsiderar esta escolha", começou por responder aos jornalistas Catarina Martins, durante uma visita esta tarde à Feira do Livro, em Lisboa.
A líder bloquista recordou ainda "que esta escolha passa pelo parlamento e há uma audição obrigatória", mas foi perentória: "nós ainda aguardamos que o Governo, depois de dizer que ia analisar melhor o caso, tire as devidas consequências".
Sobre a notícia do semanário Expresso, que dá conta que a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Montepio já está a ser preparada, Catarina Martins escusou-se a falar "neste momento sobre isso".
"Como sabem, nós temos tido políticas sobre o sistema financeiro um pouco diferentes deste Governo e teremos oportunidade para falar disso também", disse apenas.
A propósito da entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, na qual Rocha Andrade avisa que mexer nos escalões do IRS e reduzir a receita em 600 milhões de euros, como o BE defende, "vai ter consequências noutras áreas do Orçamento", a líder bloquista notou que "as famílias precisam de recuperar algum do rendimento que perderam nos últimos anos".
"Disseram-nos muitas vezes que muitas coisas eram impossíveis. Era impossível subir o salário mínimo nacional porque ia criar desemprego e, pelo contrário, o salário mínimo nacional subiu e, mesmo assim, criou-se mais emprego e assim também mais receita fiscal e mais receita para a Segurança Social", recordou.
Catarina Martins reiterou que quando se protege os rendimentos de quem trabalha e de quem trabalhou toda uma vida, se está "sempre a proteger a economia".
"Criar mais escalões de IRS, aliviando as famílias com menos rendimentos e que têm uma carga fiscal muito desproporcional face aquilo que ganham, é um caminho essencial porque o nosso país é ainda desigual demais", insistiu.
Questionada sobre a situação dos juízes, a líder bloquista disse que o partido acompanha "com atenção" o caso e que "naturalmente o Governo irá conversar com os juízes".
"É um órgão de soberania e, portanto, são particularmente delicadas as relações entre o poder político e o poder judicial. Eu julgo que será possível encontrar bons caminhos, seguramente", disse apenas.
O Público noticiou sexta-feira a apreensão do PSD com a escolha de Pereira Gomes para chefe do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP).
Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro, António Costa, manifestou confiança no diplomata José Júlio Pereira Gomes para o desempenho das funções de secretário-geral das "secretas", explicando que foi isso que o levou a convidá-lo para o cargo.
Já no sábado, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, disse que o partido está atento às objeções que tem merecido a escolha do novo chefe das "secretas", mas sublinhou não querer acrescentar nada que possa "adensar a polémica".
Na semana passada, ao DN, a eurodeputada do PS Ana Gomes também já tinha demonstrado preocupação pela nomeação de José Júlio Pereira Gomes para chefe das ‘secretas'.
Ao DN, Ana Gomes assumiu que ficou "muito surpreendida e apreensiva", porque, "não estando em causa o percurso profissional, falta a Pereira Gomes o perfil psicológico".
"Tenho dúvidas de que o embaixador Pereira Gomes tenha capacidade para aguentar situações de grande pressão. Não inspira confiança e autoridade junto dos seus subordinados nos serviços de informações", referiu a eurodeputada, adiantando que já informou "quem de direito" do porquê da sua "apreensão".
Posteriormente, num artigo de opinião no Público, o jornalista Luciano Alvarez, falou também da passagem do embaixador por Timor-Leste em 1999.
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