"Se Deus permitir, vamos lançar hoje a convocação para as eleições, como todo o país está a pedir", disse Áñez à imprensa, acrescentando que ainda não se definiu qual será o mecanismo legal — se por uma lei aprovada no Congresso, ou se por decreto supremo presidencial.

Áñez afirmou que a convocação de eleições será observada por organismos internacionais e por outras instituições, como a Igreja católica, as quais têm vindo a mediar um diálogo interpartidário para agilizar uma nova disputa eleitoral e definir o cronograma do processo.

"Vamos estar o mais agarrado possível à Constituição", afirmou.

O Senado foi convocado para esta tarde, mas tudo faz antecipar que haverá complicações nos trabalhos.

A convocação para eleições é um mandato assumido por Áñez, ao ocupar a presidência do país há uma semana, assim como a formação de um novo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), depois de todas as autoridades deste órgão terem sido detidas.

Jeanine Áñez autoproclamou-se Presidente baseando-se na renúncia de Evo Morales e no seu abandono do país, rumo ao México, onde recebeu asilo. O vazio de poder foi agravado pela falta de quorum dos legisladores para tratarem tanto da carta de renúncia de Morales quanto da designação da nova Presidente interina. A autoproclamação de Áñez foi avalizada pelo Tribunal Constitucional.

A segunda vice-presidente do Senado assumiu a Presidência interina do país na última terça-feira depois de Evo Morales ter renunciado, nos dia 10, num país em convulsão social, à beira de uma guerra civil.

Os apoiantes de Evo Morales classificam o candidato Carlos Mesa e o líder cívico Luis Fernando Camacho como os artífices de três semanas de manifestações da classe média que paralisaram o país contra a fraude de Morales nas eleições de 20 de outubro e confirmada pela missão da Organização dos Estados Americanos (OEA).

A Bolívia é um país dividido não só entre apoiantes e adversários de Evo Morales, mas também entre etnias, classes sociais e divisão geográfica. De um lado, os habitantes do chamado Altiplano, no oriente do país, na maioria de classe baixa e indígena. Do outro, os habitantes da planície, zona ocidental e mais rica do país. Em La Paz, as duas Bolívias encontram-se em choque.

Os conflitos na região de Cochabamba e na cidade de El Alto atingiram a Bolívia na última semana, desde a partida de Morales, com confrontos no bloqueio de uma central de gás na terça-feira, deixando seis pessoas mortas. Este momento elevou o número total de mortes nos distúrbios pós-eleitorais para 30.