"Bolsonaro disse-me que a expectativa dele é fazer um Governo que possa responder à necessidade e às expectativas dos brasileiros, mas também quer tornar a economia [do Brasil] mais aberta", contou o diplomata numa entrevista à Lusa durante um jantar de comemoração dos 106 anos da Câmara Portuguesa de Comércio em São Paulo.
"Ele disse que poderia melhorar ainda mais as relações económicas entre Portugal e o Brasil, que já são importantes, mas que podem ser ainda melhores, não só em termos comerciais como em termos de investimento. Disse-me que o investimento estrangeiro é muito importante para o Brasil e o [investimento] português em particular", acrescentou.
Jorge Dias Cabral contou que o encontro em Brasília com Bolsonaro foi "uma conversa muito cordial e afável", durante destacou "a importância que Portugal tem para o Brasil e vice versa" e o "relacionamento tão próximo, tão único e diferente dos dois países".
"O Presidente eleito disse-me que estava ciente da importância e da singularidade desta relação com Portugal, sabia muito bem do dinamismo das relações e desta proximidade e redescoberta entre os portugueses e os brasileiros, que é cada vez maior", frisou.
No mesmo encontro, o embaixador sublinhou as ações de cooperação dos dois países em áreas como o ensino, ciência e tecnologia, e a expectativa do Governo português de que o Brasil possa colaborar com o projeto de criação do Centro Internacional de Investigação dos Açores e com o fortalecimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Questionado sobre as negociações de um acordo de livre comércio entre o Mercosul [bloco económico fundado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai] e a União Europeia, o embaixador português avaliou que não sentiu resistência por parte de Bolsonaro.
O acordo voltou a um impasse e pode não ser prioridade do próximo Governo brasileiro, segundo declarações recentes de membros da equipa do Presidente eleito.
"Fiquei com a sensação de que o acordo [do Mercosul com a União Europeia] é um assunto que ele [Bolsonaro] ainda não conhece em detalhe e quer conhecer melhor. Quando ele perceber tecnicamente o enquadramento [do acordo] irá perceber a importância que isto terá para a abertura da economia brasileira", disse Jorge Dias Cabral.
Já as posições defendidas pelo futuro ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Ernesto Araújo, que num artigo publicado no ano passado descreveu a Europa como "apenas um conceito burocrático e um espaço culturalmente vazio regido por valores abstratos", o embaixador português afirmou não temer que tais opiniões possam representar um posicionamento do futuro Governo brasileiro.
"Não temo. O [futuro] ministro estava na reunião ao lado do Bolsonaro. Ele foi muito agradável e muito afável comigo e percebi claramente que ele tem absoluta noção da importância da relação entre Brasil e Portugal", disse.
"O futuro ministro sabe que somos um país importante e respeitado na União Europeia (...) Às vezes as coisas que as pessoas pensam antes de chegarem ao poder e as que fazem e pensam depois de chegar ao poder são diferentes. É preciso dar um certo distanciamento antes de fazer um juízo definitivo. Acho que ele há de ser, com certeza, uma pessoa sensata e capaz de pensar as coisas como elas merecem ser pensadas", concluiu.
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