“Esse inglês, ele era malvisto na região porque fazia muita matéria [reportagem] contra garimpeiro [minerador ilegal], sobre a questão ambiental”, afirmou Bolsonaro, ao comentar o desaparecimento de Phillips e do ativista indígena brasileiro Bruno Araújo Pereira, numa área conhecida como Vale do Javari, no estado do Amazonas.

“Então naquela região lá, que é uma região muito isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio”, acrescentou o Presidente brasileiro sobre o jornalista britânico.

Segundo Bolsonaro – que não comentou declarações do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, manifestando-se “preocupado” com o desaparecimento de Phillips, após a antiga primeira-ministra Theresa May ter pedido para o caso receber “prioridade diplomática” do Governo britânico -, o Vale do Javari não é uma área segura e seria arriscado estar lá sem andar armado.

“A gente não sabe se quando ele saiu do porto, só em dois, se alguém foi atrás dele (…) Lá tem pirata no rio, lá tem tudo que você possa imaginar. E é muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado, fisicamente e também com armamento”, disse Bolsonaro.

O Presidente brasileiro também sugeriu que o jornalista britânico e o ativista brasileiro estavam no local sem a devida autorização das autoridades, informação que já foi desmentida.

“Aquela região, pelo que tudo indica, se mataram os dois, espero que não, eles estão dentro da água. E dentro da água, pouca coisa vai sobrar. Peixe come, não sei se tem piranha no [Vale] do Javari”, disse Bolsonaro.

Dom Phillips, jornalista e colaborador do jornal The Guardian, e Bruno Araújo Pereira, ativista que militava em favor dos direitos dos indígenas, estão desaparecidos desde 05 de junho, no Vale do Javari, região remota e de selva na Amazónia brasileira perto da fronteira com Peru e Colômbia, onde realizavam uma investigação sobre ameaças de invasores e criminosos contra os indígenas.

No domingo passado, o Comité de Gestão de Crise, criado para coordenar as buscas e chefiado pela Polícia Federal brasileira, informou que o Corpo de Bombeiros havia encontrado uma mochila com um computador e outros itens pessoais dos desaparecidos.

A mochila, que está sob investigação policial, foi amarrada a uma árvore numa área das margens do rio, cujo nível subiu nos últimos dias devido às chuvas, num local próximo à casa de Amarildo da Costa de Oliveira, mais conhecido como “Pelado”.

Na terça-feira os responsáveis pela operação cumpriram um mandado de captura temporário emitido contra Oseney da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como “Dos Santos”, por suspeita de envolvimento no caso, juntamente com “Pelado”, que se encontra detido há uma semana.

Amarildo, irmão de Oseney, é por agora o principal suspeito por ter sido visto ameaçar o ativista e a perseguir os desaparecidos num barco.

O Vale do Javarí, segunda maior reserva indígena do Brasil, é conhecido por ser palco de conflitos dominados pelo narcotráfico, roubo de madeira, pesca e mineração ilegal.