O valor foi avançado pelo advogado Sean Jelly ao defender pedido de liberdade sob caução no tribunal, onde João Rendeiro está presente.

Naveen Sewparsat, procurador da National Prosecuting Authority (NPA), ministério público sul-africano, já disse que o pedido de liberdade sob caução deve ser negado a bem da justiça.

João Rendeiro quer voltar para a sua casa na zona de Sandton, em Joanesburgo, estando disponível para se apresentar junto da polícia todos os dias e para ser monitorizado, de acordo com o seu advogado.

A defesa contestou os dois mandados de detenção sul-africanos contra João Rendeiro, alegando não respeitarem a lei, e disse que o ex-banqueiro está a ser vítima de uma campanha sensacionalista, de uma "caça às bruxas" e de "ações inconstitucionais" por parte de Portugal.

"Há uma agenda de o responsabilizar pelo colapso do banco BPP", o que rejeita, disse o advogado Sean Kelly.

João Rendeiro rejeitou ainda a ideia de ser um homem abastado: "nada mais errado", referiu o seu advogado, dizendo que a maioria dos seus bens foram congelados pelas autoridades portuguesas e que ficou com poucos recursos.

Alegou não ter assuntos pendentes com a justiça portuguesa - o advogado até tem um documento das autoridades portuguesas que o certifica - e planeia gozar tempo de aposentação na África do Sul, onde quer fazer investimentos.

"Por isso contactei a minha advogada June Marks", logo após a chegada à África do Sul em setembro, referiu o advogado em nome do ex-banqueiro.

O antigo presidente do BPP Rejeitou ainda o uso de tecnologia para encriptar comunicações na entrevista à CNN Portugal, dizendo que usou apenas o 'software' do seu ipad e um programa de ligação VPN (rede privada) que se pode adquirir a partir de 12 dólares por mês.

Falhas na documentação, em autenticações e na comparação entre crimes em Portugal e na África do Sul foram também alegadas pelo causídico.

João Rendeiro queixou-se ainda de outras irregularidades - como por exemplo, terem sido apreendidos dois ipads e três telemóveis sem mandado para tal quando foi detido em Durban.

A apresentação acabou por ser interrompida ao cabo de 15 minutos devido a uma falta de energia na sala de audiências.

Antes, vários outros problema atrasaram a sessão - que esteve marcada para as 09:00 e que só arrancaria às 12:30 (menos duas horas em Portugal).

Não havia eletricidade no primeiro edifício do tribunal de Verulam, houve uma mudança para as instalações do tribunal de família, mas aqui faltaram salas e quando as houve surgiram falhas no sistema informático - "é necessária gravação digital por ser um caso internacional", explicou um funcionário.

À quarta vez, foi escolhida a sala onde a sessão ainda decorre.

Naveen Sewparsat, procurador da National Prosecuting Authority (NPA), ministério público sul-africano, retomou quando a eletricidade voltou e refutou as alegações do ex-banqueiro.

Depois de passar em revista todos os processos em Portugal, incluindo as condenações, disse que o pedido de liberdade sob caução deve ser negado a bem da justiça, porque Rendeiro quer evitar responder ao que tem de enfrentar em Portugal.

Por outro lado, alegou que de acordo com a entrevista à CNN Portugal, Rendeiro pode ter "tendências suicidas".

A entrevista foi também usada pelo procurador para demonstrar como João Rendeiro não quer voltar para Portugal.

Para ele, pode ser fácil "transpor fronteiras", disse, reiterando que pode ter acesso a avultadas quantias em dinheiro - aliás, sublinhou que foi detido com muito dinheiro em numerário.

Indicou ainda que a Interpol já sabia que tinha dois passaportes em seu nome e dispunha de um terceiro quando foi detido.

"Partilho do ponto de vista das autoridades portuguesas, há uma forte possibilidade de fuga", resumiu o procurador.

A informação do procurador sobre os passaportes de Rendeiro levou o seu advogado de defesa a pedir uma pausa para se reunirem, paragem concedida pelo juiz após a qual a audiência continuará.