Tudo começou com Thiago Coqueiro, que em pleno desenvolvimento da tese de mestrado visitou Santana. O português Nuno Flores, arquiteto e amigo, juntou-se-lhe pouco depois. Dois anos de dança, de comida, de cultura, de pessoas, de reconhecimento e história. Do relacionamento nasceu uma ideia que virou projeto e agora é missão: “Limpar Santana” — e pelo caminho afirmar o seu lugar no passado, presente e futuro do Brasil.

Falar neste projeto não é só falar de esgotos, mas antes da história de um povo que luta pelo direito à terra, e cujas lutas são indissociáveis da História do Brasil — uma história de escravatura, opressão, luta, resistência e afirmação.

O principal objetivo é, então, criar condições para que a comunidade de Santana seja capaz de garantir o seu sustento e de criar oportunidades — o que terá um impacto direto na sua qualidade de vida e será reflexo de reconhecimento e afirmação da cultura quilombola.

Mas para isso ser possível precisavam de 7.500 euros. A campanha de crowdfunding continua a correr na plataforma PPL, e já foi angariada a totalidade do valor — aliás, o valor já foi ultrapassado, fruto da ajuda de mais de 100 apoiantes.

Inicialmente, a campanha decorria até 16 de abril, às 18h00. No entanto, como foram atingidos os 70% até esse dia, prolongou-se até 30 de abril, sendo ainda possível contribuir até às 18h00 de hoje.

Para cativar apoiantes, quem participa na campanha habilita-se ainda ao sorteio da camisola e das chuteiras de Alan Osório, ex jogador do Sporting Clube de Braga.

Quilombo significa povoação ou fortaleza, e foram comunidades criadas por escravos que fugiam dos seus senhores. Aqui, as tradições africanas foram alimentadas e transmitidas de geração em geração. O quilombo mais conhecido na História do Brasil é o de Palmares, cujo herói, Zumbi, é um símbolo de resistência. Durante 42 dias, Zumbi combateu as autoridades coloniais em 1694. Foi derrotado e morreu, mas tornou-se uma lenda. Uma vez abolida a escravatura, a luta era outra, a de garantir o direito à terra ocupada pela comunidade.

Hoje, os quilombos mantém muitas das suas tradições, da comida, à religião, passando pelas manifestações culturais; e a luta do seu povo é pelo reconhecimento do seu modo de vida em pleno Séc. XXI.  São, regra geral, símbolos nas lutas por inclusão social dos negros no Brasil.

Estima-se que existam mais de 3000 mil quilombos no Brasil. Até janeiro de 2016, estavam em curso 1.532 processos de regularização e já tinham sido emitidos 210 títulos coletivos de propriedade, em benefício de 151 territórios, 241 comunidades e 16.009 famílias quilombolas.