"Bring the boys back home" é um dos temas do The Wall, o mítico álbum dos Pink Floyd lançado em 1979. Escrito em clima de pós guerra-fria. Escrito, disse Roger Waters  que a compôs, para não deixar que a guerra, carreiras ou outros derivados se sobreponham ao que é realmente importante - a família, os amigos, as relações pessoais. Muito mudou entretanto, a guerra já não é o que era, mesmo que até possamos ter alguma estranha saudade do ambiente controlado desses tempos de guerra fria. Mas não mudou a mensagem, não mudou a ideia do que é mais importante - e, mesmo em dia de ressaca por uma derrota nos oitavos de final do Mundial da Rússia que mandou a equipa de Portugal para casa, mesmo face ao todos os que hoje se indignaram com o que correu mal, mesmo com tudo isso continuou a ser "apenas" um jogo e continua a ser mais importante tudo o resto.

E foi esse "tudo o resto" que levou várias dezenas de pessoas a deslocarem-se neste princípio de noite de domingo ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, para receber a seleção nacional que hoje regressou da Rússia. Mesmo sentindo que era "cedo demais". Os adeptos dirigiram palavras de incentivo aos jogadores e gritos de 'Portugal, Portugal', mostrando estar com a seleção, que, embora fora do Mundial, ainda é campeã europeia em título. O selecionador nacional, Fernando Santos, retomou ao vê-los a mesma frase que tinha proferido ontem, após o jogo com o Uruguai: "estamos tristes, por nós, e sobretudo por eles [os adeptos]". Nas várias entrevistas, uma nota comum: a vontade de procurar novas vitórias e de dar alegrias ao país e o sabor amargo de uma derrota que a maioria acredita que podia ter sido evitada.

Cristiano Ronaldo e Quaresma eram os nomes mais aguardados pela multidão, a julgar pelas declarações prestadas aos jornalistas, mas um deles não chegou sequer a sair do aeroporto de Lisboa: o capitão da seleção portuguesa viajou com a equipa mas apanhou um voo de ligação para Madrid.

Depois da eliminação ontem nos oitavos de final frente ao Uruguai, num jogo realizado em Sochi, os jogadores e membros da equipa técnica regressaram a Kratovo, nos arredores do Moscovo, pernoitando naquele que tem sido o quartel general em solo russo. A comitiva lusa deixou o empreendimento às 13:30 de domingo (11:30 em Lisboa), para seguir num voo fretado para Portugal.

Ontem, um pouco por todo o país, adeptos torceram por Portugal e sofreram com a derrota. A 'Arena Lisboa', situada no Terreiro do Paço, tornou-se pequena para acolher os milhares de adeptos e também a Avenida dos Aliados, na baixa do Porto, recebeu milhares de adeptos para seguir o jogo da seleção.

Apesar da tristeza pelo resultado, muitas foram as palavras de incentivo e de solidariedade com a equipa portuguesa. A começar pelo Presidente da República que se deslocou a Sochi para assistir ao jogo e falou com os jogadores e a equipa técnica após o fim da partida. Em declarações à RTP, contou que lhes deu o seu próprio exemplo. "Na minha carreira académica, como comentador, como político, houve dias em que achei que tinha feito tudo e que por um bocadinho correu mal; outros dias em que tinha feito menos bem e deu para ter um resultado maior".

Dado o exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa prosseguiu com a mensagem que deixou à seleção nacional: "e portanto, isto acontece na vida de todos, e o que lhes disse foi que em nome de todos os portugueses queria agradecer-lhes estes dias e estas semanas de alegrias e de sonho".

A mesma tónica foi seguida pelo primeiro-ministro, António Costa. “Foi o nosso melhor jogo, mas… isto é futebol. O importante é que estivemos sempre à altura dos campeões que somos e lutámos com abnegação até ao apito final. Parabéns”, escreveu na sua conta de Twitter.

Ainda em fase de rescaldo, Cristiano Ronaldo, também não hesitou nas palavras: "como capitão, sinto-me orgulhoso deste grupo de trabalho" afirmou. Assumiu que "as coisas" não correram como a equipa queria, mas sublinhou que Portugal sai de cabeça erguida e que "a seleção vai continuar a ganhar coisas". "Não é o momento para falar do futuro, mas tenho a certeza que a seleção continuará a ser uma das melhores do mundo, com grandes jogadores e por isso estou confiante".

Um discurso não muito diferente do proferido pelo selecionador nacional, Fernando Santos, na conferência de imprensa após o jogo.  "Podíamos ter feito tudo mais, porque perdemos e quando se perde podíamos ter feito sempre mais. Já dei os parabéns aos jogadores. Está tudo muito triste na cabine, eu também. E não dei os parabéns não porque ganhámos, mas pela atitude, pela determinação e pelo empenho dos jogadores".

Menos de 12 horas depois do afastamento de Portugal, foi a vez de Espanha ser eliminada pela Rússia nas grandes penalidades, depois de empate registado ao longo dos 90 minutos e do prolongamento. O filme dos oitavos ainda vai a meio, mas para já duas das principais estrelas, Ronaldo e Messi, estão fora de jogo.

É prematuro fazer contas, mas se há coisa que  já se percebeu é que está longe de ser um passeio no parque para os ditos favoritos (para já, Alemanha, Argentina, Portugal e Espanha estão fora da corrida).