De acordo com o levantamento da Organização Internacional para as Migrações (OIM), em causa estão ataques e “receio” de ataques destes grupos junto das populações de Mucojo e Pagane, distrito de Macomia.

“Desencadearam 434 deslocações individuais. As famílias relatadas procuraram abrigo nas comunidades anfitriãs nos distritos de Macomia e Ibo”, refere-se no relatório, com informações recolhidas no terreno.

Segundo o documento, aproximadamente 68 famílias, num total de 255 pessoas, chegaram à ilha do Matemo e “pretendem seguir para a ilha das Quirimbas nas próximas semanas”, entre as quais 157 menores.

“Devido às preocupações de segurança prevalecentes relatadas pelas famílias deslocadas, as intenções durante a sua estadia nas comunidades de acolhimento permanecem incertas”, relata igualmente a OIM.

O grupo terrorista Estado Islâmico reivindicou em 31 de dezembro a autoria de um novo ataque em Cabo Delgado, em que afirma terem morrido mais quatro militares, o terceiro do género conhecido em menos de um mês.

De acordo com informação avançada pelo grupo terrorista nos seus canais de propaganda, o ataque terá ocorrido esta semana e provocou a morte de quatro militares do exército moçambicano e da Missão de Assistência Militar Internacional de Segurança (SAMIM).

Nos mesmos canais, o grupo terrorista apresenta alegadas provas dos confrontos com os militares, que tem vindo a travar em Cabo Delgado recentemente, nomeadamente no distrito de Macomia.

Aquele grupo terrorista reivindicou na sexta-feira um outro ataque em Cabo Delgado em que afirmou terem morrido nove militares.

Antes, em 09 de dezembro, o Estado Islâmico já tinha reivindicado a autoria de um ataque em Cabo Delgado em que morreram cinco militares, afirmando ainda ter decapitado um cristão, civil.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu, em 22 de novembro, decisões sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em Cabo Delgado, nomeadamente com reservistas, tendo em conta a prevista retirada das forças estrangeiras que apoiam no terreno contra os grupos terroristas.

São necessárias “decisões concretas sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em relação à sua ação no combate ao terrorismo em Cabo Delgado no período após a retirada das forças amigas da SAMIM [missão da SADC em Moçambique] e do Ruanda”, pediu Nyusi, na abertura do XXIV Conselho Coordenador do Ministério da Defesa Nacional.

“Para o efeito, a vossa reflexão deve igualmente avaliar a forma de melhor capitalizar o manancial de reservistas, empenhando-os direta ou indiretamente em várias missões em prol da defesa da soberania e integridade territorial do nosso país. E a realidade atual justifica”, acrescentou.

A cimeira da SADC aprovou, em agosto passado, a prorrogação da missão em Cabo Delgado, por 12 meses, até julho do próximo ano. Uma missão de avaliação propôs em julho passado a retirada completa dos militares da SAMIM em Cabo Delgado até julho de 2024, assinalando que a situação na província “está agora calma”, apesar de os riscos prevalecerem.

Além da SAMIM e das forças governamentais moçambicanas, combatem a insurgência em Cabo Delgado as tropas do Ruanda, estando estas a operar no perímetro da área de implantação dos projetos de gás natural da bacia do Rovuma.