"De facto, não conseguimos encontrar uma solução que agradasse ao Sonic Blast e, por isso, o festival vai e, certamente, está já a procurar outras paragens", afirmou Miguel Alves a um grupo de dez moradores de Moledo que o interpelou no período aberto ao publico, no final da reunião camarária daquele município do distrito de Viana do Castelo.
O autarca socialista explicou que "as negociações iniciadas em outubro de 2019" com a organização do festival de rock psicadélico e 'stoner rock', na sequência de um abaixo-assinado de moradores de Moledo, com 80 assinaturas, "terminaram na última quinta-feira sem acordo quanto à nova localização do festival".
As queixas dos moradores prendem-se com "barulho excessivo, os danos causados pelo som elevado nas habitações mais próximas do evento, o lixo, porcaria, trânsito caótico" resultantes do festival que, nos últimos nove anos, decorreu em agosto.
"Os moradores da aldeia são sobretudo idosos e doentes e têm sido completamente ignorados", disse Ana Lindade, habitante na localidade.
Garantiu que a aldeia "não está contra" o festival, mas defendeu o "direito ao descanso" da população daquela aldeia, apontando como exemplo a sua habitação, que dista cerca de 35 metros do palco do festival.
"É um festival que nos entra porta dentro. Não temos descanso antes, durante e depois do festival. As pessoas da organização ignoram-nos. Não há uma palavra, um pedido de desculpa. É um festival que mexe muito connosco, não só por nos incomodar moralmente mas também porque vemos as nossas casas danificadas. Temos estado calados, em silêncio, mas isto não pode continuar", adiantou.
As nove edições do festival decorreram "num parque infantil, situado em pleno centro de Moledo".
No final da reunião camarária, em declarações aos jornalistas, o presidente da Câmara de Caminha garantiu "ter feito tudo para atender às queixas dos moradores e às necessidades da organização", mas sem sucesso.
"Nestas matérias não há só uma razão, há que equilibrar razões, as razões da população que se sentiu castigada ao longo dos anos do festival, mas também a mais valia que o festival trazia ao concelho", referiu.
Segundo Miguel Alves, a autarquia "negociou com terceiros, ofereceu soluções, disponibilizou-se para assumir mais alguns custos, mas a organização entendeu que nenhuma das alternativas era suficiente".
"Assim sendo, o município dá por encerradas as negociações. Da nossa parte estamos de consciência tranquila. Quero agradecer à Junta de Freguesia de Moledo o empenho que teve em encontrar alternativas e o apoio que deu ao festival durante as nove edições. Quero agradecer ao Sonic Blast o trabalho que realizou no município durante nove anos e por ter contribuído para o fortalecimento da imagem do concelho enquanto polo cultural. Desejo-lhe boa sorte na sua nova etapa", referiu.
Entre as alternativas propostas pela autarquia constavam "uma no mesmo local, só para a realização da edição 2020, duas localizações em Moledo, no lado nascente da Mata do Camarido, uma na freguesia de Âncora, junto ao campo de futebol do Âncora Praia, com ligação direta à praia, campismo nas imediações, apoio da infraestrutura desportiva e com o apoio de duas freguesias, a de Âncora e a de Vila Praia de Âncora".
Contactada pela Lusa, a organização do festival escusou-se a reagir às declarações do presidente da Câmara de Caminha, remetendo para um comunicado recentemente enviado à imprensa a posição oficial ao assunto.
Naquela nota, a organização refere que, "depois de nove históricas edições banhadas pelas águas de Moledo, a 10.ª edição do festival irá realizar-se numa nova localidade e [em] novo recinto a anunciar muito brevemente".
"Moledo acolheu o festival nas últimas nove edições do Sonic Blast, garantindo momentos únicos e inesquecíveis aos festivaleiros. No entanto, apesar de todos os esforços da organização em manter o festival na localidade de Moledo, não foram reunidas as condições necessárias para a continuação da realização do evento no local e para que a parceria, até aqui de enorme sucesso, fosse continuada em 2020", sustenta a organização.
A Garboyl Lives, entidade organizadora do Sonic Blast, "encontra-se, neste momento, em negociações com outro parceiro/localidade que pretende abraçar o conceito e público do festival, num novo recinto que garanta todas as melhores experiências já usuais no festival".
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