O autarca respondia a Manuel Leitão, o empresário que em 2012 viu a sua adjudicação anulada pela Câmara do Porto - já com Rui Moreira na presidência - e que foi hoje questionar o executivo sobre o futuro a dar àquele espaço.

Na época, a ideia de Manuel Leitão era abrir naquele local uma biblioteca pública, retomando o projeto da biblioteca infantil que lá chegou a funcionar.

No dia 15 de janeiro, a Câmara Municipal do Porto revelou que ia resgatar "para fins culturais" o edifício da antiga biblioteca do Marquês, não esclarecendo se ia retomar o projeto da biblioteca Popular D. Pedro Ivo.

A decisão foi tomada na sequência da anulação da terceira hasta pública de concessão da antiga biblioteca do Marquês, devido a irregularidades.

Na reunião de hoje do executivo municipal, o autarca começou por afirmar que o que se passou "foi demasiadamente grave", lembrando que o assunto já seguiu para o Ministério Público.

Fazendo referência "aos negócios escuros" relatados por Manuel Leitão na sua intervenção, Moreira acrescentou que o que lá se passa não dignifica o local, daí a autarquia ter decidido resgatar o espaço.

"Estamos naturalmente a estudar o assunto, mas estamos disponíveis para ouvir propostas dos cidadãos. A nós não nos parece, neste momento, que faça sentido ter lá uma biblioteca infantil, tal como ela existia. Parece-nos mais interessante ter um espaço que vá tendo uma atividade cultural rotativa, ou seja, promover um conjunto de outras atividades (...) desde o 'Cultura em Expansão', ao futuro Museu da Cidade", revelou.

"Uma coisa lhe digo, não vai ser mais café. Isso não vai", declarou.

Na última hasta pública realizada, as licitações ultrapassaram mais de 10 vezes o valor da renda atual, tendo o primeiro e segundo classificado desistido da adjudicação.

Esta era já a terceira hasta pública realizada sobre o mesmo imóvel, tendo as anteriores sido também marcadas por situações que levantaram "legítimas dúvidas resultantes de sistemáticas desistências", e que levaram a câmara "a estabelecer um regulamento diferente, procurando prevenir situações anómalas".

A Biblioteca Popular Pedro Ivo funcionou naquele edifício no Jardim do Marquês, que a autarquia pretendia concessionar, entre 1948 e 2001, tendo mantido as suas portas encerradas até 2012, altura em que um grupo de pessoas ocupou o edifício tentando transformá-lo na Biblioteca Popular do Marquês.

Contudo, três dias depois da ocupação, a Polícia Municipal e uma equipa da Domus Social retiraram o "recheio" e emparedaram o local.

Com Rui Rio presidente da Câmara do Porto, aquele edifício foi, então, colocado em hasta pública, com uma base de licitação de 260 euros e sem destino definido pela autarquia. O caderno de encargos estipulava como "fundamento de resolução" do contrato a "utilização das instalações para fim e uso diverso do autorizado pela autarquia".