“Espero que os migrantes que foram para Portugal possam ter um futuro melhor, que tenham oportunidade de se integrarem e que possam tornar-se membros da sociedade portuguesa”, disse Claus-Peter Reisch à agência Lusa à entrada da audiência no tribunal de La Valetta.

O capitão do navio, pertencente à organização não-governamental alemã Mission Lifeline, atracou em Malta a 27 de junho com cerca de 240 migrantes a bordo e é acusado pelas autoridades locais de irregularidades no registo marítimo.

O Lifeline andou à deriva durante seis dias, depois de lhe ser negada autorização de entrada nos portos de Itália e só pôde atracar em Malta após um acordo com nove países europeus, entre os quais Portugal, para recolocar os migrantes que trazia.

“Decidi ficar em águas maltesas para esperar por uma decisão política. Acho que foi a decisão certa porque agora [os migrantes] estão distribuídos pela Europa. São 243 pessoas em toda a Europa, não deve ser um problema integrá-los”, sublinhou.

Claus-Peter Reisch destacou ainda que “salvar vidas no mar não é um crime” e explicou que o que está em causa é “apenas um papel”.

Segundo disse, as autoridades maltesas discordam da validade do registo do navio (que está licenciado como embarcação de recreio), mas o capitão sustenta que qualquer navio tem obrigação de salvar pessoas no mar, independentemente da forma de registo.

“É irónico que as autoridades maltesas decidam acusar o capitão, enquanto a Alemanha o considera um herói”, disse à saída do tribunal Cedric Mifsud, um dos advogados da equipa que está a defender Claus-Peter Reisch.

O advogado afirmou que foi entregue ao magistrado que está a julgar o caso um documento relativo ao prémio atribuído ao capitão pelo SDP (Partido Social Democrata) alemão, reconhecendo o seu papel no salvamento de mais de 240 pessoas.

À porta do tribunal, duas dezenas de ativistas e tripulantes dos três navios humanitários presentemente retidos em Malta (Sea-Watch, Sea Eye e Lifeline, todos pertencentes a ONG alemãs) foram mostrar o seu apoio ao capitão, empunhando faixas, escritas em alemão e inglês, onde se lia: “Parem as mortes, não os salvadores” e “Solidariedade no mar não é crime”.

Nas escadas do edifício estavam espalhados vários coletes salva-vidas.

“Estamos aqui a mostrar a nossa solidariedade e a mostrar que estamos juntos”, disse à Lusa Jelka Kretzschmar, de 35 anos, pertencente ao Sea Eye.

A ativista alemã adiantou que, embora sejam organizações diferentes, todas estão atualmente a enfrentar problemas semelhantes, relacionados com a bandeira ou registo dos navios.

Jelka Kretzschmar contestou igualmente o fecho dos portos mediterrânicos, já que Malta é o porto de desembarque mais próximo e atualmente o único navio de resgate a operar no Mediterrâneo - o Open Arms da ONG espanhola Proativa – tem de navegar até Espanha para desembarcar os refugiados.

“Isto sai muito caro para os navios e são dois a três dias que perdemos em navegação em vez de salvar pessoas no Mediterrâneo”, criticou.

Claus Peter Reisch teve permissão do tribunal para viajar para a Alemanha, mas deverá voltar a Malta para a próxima sessão do julgamento, marcada para 23 de agosto.


Por: Raquel Rio da agência Lusa