No Congresso, a comissão de investigação do ataque ao Capitólio tenta compreender e aferir o grau de responsabilidade de Trump, mas também de um pequeno núcleo de conselheiros que tentou impedir a validação da vitória eleitoral do candidato presidencial democrata, Joe Biden.

Eis uma lista de protagonistas na invasão do Capitólio.

Donald Trump, Presidente dos EUA

Pelo meio-dia de 6 de janeiro de 2021, Trump iniciou, a partir da Casa Branca, um discurso de uma hora em que encorajou uma multidão dos seus apoiantes a marcharem até ao Capitólio para protestarem contra aquilo que o ex-presidente classificou como um “resultado falsificado” das eleições presidenciais, quando o Senado se preparava para validar a vitória de Joe Biden.

Nesse discurso, Trump acusou mesmo o seu vice-presidente, Mike Pence, de ser conivente com os democratas, aceitando presidir à sessão do Senado que validaria a vitória de Biden, e prometeu que caminharia ao lado dos seus apoiantes até ao Congresso, para manifestar a sua indignação.

Trump acabaria por não participar na marcha até ao Capitólio, preferindo ficar na Casa Branca a assistir pela televisão ao ataque à sede do Congresso, mantendo-se em silêncio durante largas horas, apesar dos insistentes apelos, por parte de figuras próximas, para que ordenasse o fim da invasão, quando a situação ficou fora do controlo policial.

Apenas às 15:13 – já a invasão durava há duas horas – Trump usou a sua conta na rede social Twitter para pedir aos seus apoiantes para “permanecer em paz” e para não recorrer à “violência”, respeitando as autoridades.

Uma hora depois, Trump colocou no Twitter um vídeo em que voltava a insistir na ideia de que a eleição tinha sido “roubada”, mas pedia aos invasores do Capitólio para “regressarem a casa”, dizendo que “os amava” e dizendo que percebia o que eles sentiam.

Pelas 19:02, a empresa que controla o Twitter suspendeu a conta de Donald Trump, alegando “repetidas e graves violações das regras de integridade cívica”. Pouco depois seguiu-se a empresa que controla o Facebook.

Trump viria a ser julgado no seu segundo processo de ‘impeachment’ por causa da sua ação na invasão do Capitólio, mas a maioria republicana permitiu que ele fosse absolvido das acusações de “incitamento à rebelião”.

Mike Pence, vice-Presidente dos EUA

Na véspera do ataque ao Capitólio, Pence rejeitou as instruções de Trump para recusar presidir ao Senado, na cerimónia de validação do colégio eleitoral que dava a vitória ao candidato democrata, Joe Biden.

De acordo com relatos da imprensa norte-americana, Trump insultou Pence, em privado, e, publicamente, acusou-o de ser conivente com o “roubo” das eleições por parte dos democratas.

“Mike Pence não teve a coragem de fazer o que deveria ser feito para proteger o nosso país e a nossa Constituição”, escreveu Trump na sua conta da rede social Twitter, a meio da tarde do dia 6 de janeiro de 2021.

Por essa altura, a polícia do Capitólio já tinha removido Pence da sala do Senado, para um abrigo subterrâneo no edifício, para o colocar a salvo dos invasores, que gritavam palavras de ordem contra o vice-Presidente e o ameaçavam de morte.

Às 20:06, quando a polícia do Capitólio já tinha confirmado a segurança do edifício, Mike Pence voltou a presidir ao Senado e levou a cabo a sessão de validação dos resultados eleitorais, perante os elogios das bancadas dos dois partidos.

Steve Bannon, conselheiro da Casa Branca

A comissão do Senado que investiga a invasão do Capitólio quer saber qual o envolvimento de Bannon no grupo de apoiantes que se reuniu no hotel Willard, para alegadamente comandar a tentativa de evitar a validação dos resultados das eleições presidenciais.

Bannon foi um dos mentores da estratégia de mobilizar os apoiantes de Trump contra a ação do Senado, como forma de recurso para travar a eleição de Joe Biden, tendo usado o seu ‘podcast’, dias antes da invasão do Capitólio, para anunciar que “o céu cairia sobre a terra” no dia 6 de janeiro.

A comissão do Senado quer as transcrições dos telefonemas entre Donald Trump, na Casa Branca, e Steve Bannon, no hotel Willard, para aferir do papel de então Presidente dos EUA na consolidação dessa estratégia de obstrução do papel do Senado.

Roger Stone, conselheiro de Trump

Este conselheiro de Trump, que participou nas suas duas campanhas eleitorais, promoveu a marcha sobre o Capitólio, tendo chegado mesmo a angariar dinheiro para o protesto, de acordo com a acusação da comissão de inquérito do Congresso.

Roger Stone está ainda acusado de ter contratado elementos do grupo radical Oath Keepers para agirem, armados, na invasão do Capitólio.

Mark Meadows, chefe de gabinete de Trump

Meadows é uma das poucas pessoas que sabe exatamente o que Trump pensou sobre a invasão do Capitólio, enquanto os seus apoiantes tentavam obstruir o trabalho do Senado, já que conversou com o Presidente nos dias anteriores e no próprio dia do ataque.

O chefe de gabinete terá agora de responder perante a comissão do Congresso que investiga a invasão do Capitólio e, apesar de ter dito que as suas conversas com Trump estão ao abrigo de privilégio executivo, deverá ser obrigado, e já se mostrou disponível, a prestar esclarecimentos sobre outras questões relacionadas com o ataque.

Meadows, de resto, já entregou ao Congresso mais de 6.000 páginas de documentos relativos à invasão do Capitólio e o seu testemunho será fundamental para se entender que papel teve a Casa Branca em todo este processo.

Liz Cheney, congressista republicana

Cheney era o terceiro elemento mais relevante da Câmara de Representantes na hierarquia dos republicanos, até que foi marginalizada no partido, depois de ter criticado publicamente a ação de Trump no incitamento à invasão do Capitólio.

A congressista foi um dos republicanos que votou a favor do processo de destituição de Trump, por causa da sua ação no ataque ao Capitólio, que levaria ao seu julgamento no Senado, onde acabaria absolvido.

“O que aconteceu no Capitólio, a 6 de janeiro, não pode voltar a acontecer”, disse Liz Cheney, numa declaração perante a comissão de inquérito a que preside, em julho passado.

Bennie Thompson, congressista democrata

Thomson lidera, com Liz Cheney, a comissão de inquérito ao ataque ao Capitólio, tendo sido o mentor de uma estratégia de promoção de uma outra comissão independente de averiguação dos acontecimentos, que foi travada pelo Senado.

O congressista democrata está convencido de que a comissão de inquérito conseguirá ultrapassar os obstáculos colocados pelo ex-presidente Donald Trump e pelos seus mais diretos colaboradores, admitindo que será possível “chegar ao cerne do que correu mal a 6 de janeiro”.

Thomson diz estar determinado em conseguir implicar politicamente Donald Trump na invasão do Capitólio.

Paul Hodgkins, o primeiro invasor do Capitólio a ser condenado

Hodgkins apareceu em diversas fotografias a passear pelos corredores do Capitólio com uma bandeira de apoio a Donald Trump, tendo sido acusado de obstruir o trabalho das autoridades policiais.

O invasor declarou-se como culpado foi sentenciado a uma pena de oito meses numa prisão federal e a dois anos de liberdade condicionada.

Durante o julgamento, Hodgkins mostrou-se arrependido e reconheceu que a ação dos invasores “prejudicou o país”.