“Senti-me a perder oxigénio e lembro-me de pensar, ‘é assim que vou morrer, esmagado a defender esta entrada’”, disse o sargento da polícia do Capitólio Aquilino Gonell, testemunhando perante o comité da Câmara dos Representantes que está a investigar o assalto.
“Muitos polícias têm em mente a possibilidade de que isto seja um evento recorrente a cada ano ou a cada quatro anos, e é por isso que agentes como eu estão a falar, porque não queremos voltar a passar por isto”, afirmou.
O testemunho de Gonell é um dos muitos que têm vindo a público por parte dos polícias que tentaram defender o Capitólio, quando uma multidão de apoiantes do ex-presidente Donald Trump invadiu o edifício para impedir a certificação de Joe Biden como vencedor das eleições.
O polícia Daniel Hodges chamou aos invasores “terroristas” e contou, no seu testemunho no Congresso, que muitos tentaram “recrutá-lo” para ajudar na causa, dizendo que o assalto contou com organizações de supremacia branca.
Também o agente Michael Fanone, que foi severamente espancado pelos atacantes, falou em detalhe da violência que sofreu e acabou por se demitir da polícia do Capitólio em dezembro.
A violência do ataque resultou em cinco mortos naquele dia, quatro invasores e o polícia Brian Sicknick, que colapsou depois de ser atacado com um spray paralisante.
Quatro outros agentes que estavam de serviço suicidaram-se nos meses subsequentes. A líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, chamou-lhes “mártires da democracia”.
Mas, entre grande parte do eleitorado republicano, prevalecem teorias alternativas sobre 6 de janeiro de 2021, promovidas por destacadas personalidades ligadas ao partido, incluindo o ex-presidente Donald Trump.
“Operacionais do FBI organizaram o ataque ao Capitólio”, disse o apresentador Tucker Carlson, no seu programa televisivo na Fox News, canal geralmente alinhado com o partido republicano e que apoiou declaradamente Trump durante o seu mandato.
Uma apoiante, Jeanie Johnson, afirmou que “Trump ganhou a eleição”, mesmo depois de todas as alegações de fraude terem sido rejeitadas por instâncias judiciais.
Em paralelo, há organizações que estão a trabalhar para retratar o que se passou no quadro da Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão, classificando os atacantes como manifestantes pacíficos e alegando que os processos criminais são um abuso do sistema judicial.
É o caso da organização Look Ahead America, liderada por Matt Braynard, que defende que as pessoas que foram identificadas e presas pelas suas ações no Capitólio estão a ser perseguidas injustamente e tem feito várias iniciativas nesse sentido.
Também a família de Ashli Babbitt, atacante que foi morta a tiro quando tentava entrar no corredor que dava acesso à Câmara dos Representantes, tem em marcha uma campanha para responsabilizar criminalmente o autor do disparo, o tenente Michael Byrd.
Com a investigação do comité da Câmara dos Representantes em curso, cerca de uma dezena de polícias processaram Donald Trump nos últimos meses, considerando que este teve responsabilidade na invasão.
Os processos mais recentes entraram a 4 de janeiro de 2022, com Marcus J. Moore, Bobby Tabron e DeDivine Carter a pedirem compensações e o pagamento de despesas médicas pelas lesões sofridas durante o ataque.
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