“Estamos a tentar mostrar que os produtos [brasileiros] que a população está a consumir vêm regados de sangue indígena, seja a carne, o couro, o chocolate ou a soja”, disse Sonia Guajajaraa, lembrando que “tudo vem das áreas de conflito” com as comunidades indígenas, que “estão a ser desmatadas, onde há exploração ilegal de minério e trabalho escravo”.
A ativista brasileira e membro da tribo Guajajaraa falava hoje, em conferência de imprensa em Lisboa, numa das etapas da digressão “Sangue Indígena, Nenhuma gota a mais”, que vai passar por 12 países e 18 cidades europeias em 35 dias.
O objetivo da campanha é sensibilizar os parlamentos, líderes políticos, consumidores e sociedade civil dos países europeus para que ajudem a pressionar o Governo brasileiro e as empresas que “estão a promover a destruição da Amazónia” e a fomentar as perseguições aos povos indígenas.
“O apelo geral é para que o acordo do Mercosul não seja ratificado nos termos atuais. É preciso que haja garantia de respeito e cumprimento dos direitos humanos e ambientais, bem como sanções para empresas e governos” que não cumpram, disse.
Em Portugal, a também coordenadora da APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, participou num evento no Porto e foi recebida na Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda.
Participou igualmente no lançamento do manifesto/petição em Defesa da Amazónia, um documento com textos de, entre outros, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, os escritores Mia Couto e Ondajaki e os músicos Sérgio Godinho e José Fanha.
A iniciativa, em parceria com o Coletivo Alvito, tem como objetivo a recolha de quatro mil assinaturas para levar a defesa da Amazónia a ser debatida no parlamento português.
Sonia Guajajaraa sublinhou também que a campanha europeia pretende “mostrar a preocupação com o aumento dos conflitos fundiários no Brasil, com a escalada de violência contra os povos indígenas e o aumento do desmatamento”.
Para a ativista ambiental, essa violência acaba por ser provocada pelo próprio discurso do Governo do Presidente Jair Bolsonaro, que, considerou, vem legalizando estas práticas e tornando “o genocídio [dos povos indígenas] institucionalizado”.
“Viemos para a Europa com esta mensagem para sensibilizar as pessoas, para ajudar a pressionar os parlamentares para marcar uma posição mais responsável em relação ao Mercosul, mas também para conversar com as empresas que continuam no Brasil a produzir vários produtos de monocultura e a expandir o agronegócio em áreas de conflitos”, sublinhou.
Segundo Sonia Guajajaraa, a reação à campanha, que já visitou sete países europeus e deverá visitar mais cinco, está a ter uma “adesão muito boa” das pessoas, que se “preocupam agora mais e olham com mais cuidado” para a realidade brasileira.
“Aquela imagem da Amazónia a arder e os recentes assassínios e ataques têm despertado mais a atenção da comunidade europeia e acredito que há espaço para maior solidariedade”, disse.
Sobre o homicídio recente do líder indígena Paulo Paulino, da tribo Guajajaraa, a ativista considera que se trata do “retrato vivo do genocídio que está em curso”, sustentando que terá que haver justiça para a sua morte.
“A certeza da impunidade é que tem provocado todo esse aumento da violência no Brasil que acontece não apenas com os povos indígenas, mas com toda a população mais vulnerável”, disse.
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