O aumento dos casos de tosse convulsa verificou-se igualmente em toda a Europa.
Entre o início de 2023 e abril deste ano registaram-se 10 vezes mais casos da doença nos países da União Europeia (UE) e do Espaço Económico Europeu (EEE – mais Noruega, Islândia e Liechtenstein) do que em 2022 e 2021, indica um relatório da agência de saúde europeia divulgado hoje.
O estudo do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) dá conta de perto de 60.000 casos na UE/EEE naquele período, 25.130 em 2023 e 32.037 entre janeiro e março deste ano.
Em resposta escrita à Lusa, a DGS refere que “a maioria dos casos confirmados [de tosse convulsa] ocorreu em idade pediátrica (86%), sobretudo em crianças entre os 10 e 13 anos (21%) e com idade inferior a 1 ano (20%)”.
De acordo com o ECDC, os doentes de maior risco são os bebés com menos de seis meses, não imunizados ou apenas parcialmente, e “a maioria das hospitalizações e mortes relacionadas” com a doença ocorre “nesta vulnerável faixa etária”.
Além destes, os mais velhos e os que têm problemas de saúde também têm um maior risco de doença grave e hospitalização.
“Durante o período 2023-24, os bebés (com menos de um ano) foram o grupo com maior incidência em 17 países da UE/EEE, enquanto em seis outros foi o grupo entre os 10 e os 19 anos (…). A maioria das mortes ocorreu em bebés”.
Em comunicado, a agência europeia assinala que a tosse convulsa continua a ser um problema para a saúde pública, dado a doença ser “endémica na UE/EEE e em todo o mundo e causar epidemias significativas a cada três a cinco anos, mesmo em países com uma cobertura vacinal elevada”, como é o caso de Portugal.
Em 2023, adiantou a DGS, “a cobertura vacinal da 5.ª dose de vacina combinada contra o tétano, difteria e tosse convulsa atingiu os 95% e estima-se que 85% das mulheres grávidas elegíveis tenham sido vacinadas”.
“O aumento do número de casos de tosse convulsa em toda a Europa mostra a necessidade de se estar vigilante. É uma doença grave, especialmente em bebés”, afirma a comissária europeia da Saúde, citada no comunicado do ECDC.
Stella Kyriakides lembrou que existem “vacinas seguras e eficazes” para prevenir a doença e que “a vacinação é a principal ferramenta para ajudar a salvar vidas e impedir que a doença se espalhe ainda mais”.
Segundo o relatório, o aumento dos casos de tosse convulsa, que se registou após alguns anos de circulação limitada da doença na UE/EEE, especialmente durante a pandemia de covid-19, pode estar ligado a uma série de fatores, como os picos epidémicos esperados, os indivíduos não vacinados ou que não têm vacinas atualizadas e a diminuição da imunidade e do reforço natural na população em geral durante a pandemia.
A agência europeia de saúde recomenda que os países reforcem os programas de vacinação e mantenham uma elevada cobertura vacinal.
Além disso, acrescenta, a imunização contra a tosse convulsa durante o segundo e terceiro trimestres da gravidez é altamente eficaz na prevenção de doença e morte entre os recém-nascidos.
A maioria dos países da UE/EEE recomenda agora essa imunização materna, além do programa de vacinação infantil de rotina.
O ECDC defende ainda o aumento da “consciencialização dos profissionais de saúde sobre a situação epidemiológica da tosse convulsa na sua área geográfica” e do conhecimento sobre a doença, a continuação da “vigilância da tosse convulsa”, bem como que se garanta a capacidade para a deteção precoce, diagnóstico, resposta e controlo de surtos.
“As informações sobre a tosse convulsa devem salientar que esta é uma doença altamente transmissível e que é necessário proteger as crianças”, refere o estudo.
A Direção-Geral da Saúde diz manter “uma monitorização permanente da situação epidemiológica nacional e internacional, adequando as suas ações ao risco para a população portuguesa”, adiantando que “no início de maio enviou um alerta às ULS [Unidades Locais de Saúde], hospitais do setor privado e social e autoridades de saúde”.
Entre as medidas de saúde pública a aplicar, a DGS pediu “a testagem dos casos possíveis ou prováveis de tosse convulsa, a partir das secreções nasofaríngeas”, alertando para a “necessidade de vacinação de todas as grávidas que tenham critérios de elegibilidade”.
A tosse convulsa transmite-se através de gotículas de saliva expelidas pelos espirros ou tosse e pelo contacto com objetos contendo secreções do doente, sendo o período de contágio mais intenso na primeira semana em que se manifestam os sintomas.
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