Em entrevista à RTP3 esta noite, Catarina Martins foi questionada sobre o caso de Ricardo Robles, que renunciou segunda-feira ao lugar de vereador da Câmara de Lisboa na sequência de uma notícia segundo a qual, em 2014, o autarca adquiriu um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda em 2017, avaliado em 5,7 milhões de euros.
"É preciso compreender também - e essa parte cabe-me a mim assumir - que houve um erro de análise da direção política do BE e esse deve ser assumido também", admitiu a líder bloquista.
De acordo com Catarina Martins, "reconhecendo o erro" de ter havido intenção de vender o imóvel, mas também tendo em conta o "trabalho extraordinário" desenvolvido por Ricardo Robles como vereador, a direção do partido entendeu que "o essencial era que ele prestasse todos os esclarecimentos e que isso seria condição para ele manter o seu trabalho".
"Esse revelou-se um erro de análise e cabe-me a mim reconhecê-lo porque, de facto, a contradição era grande, porque de facto não foi possível explicar e porque isso criava um entrave quotidiano no trabalho do próprio Ricardo na autarquia", assumiu.
A avaliação que a direção do BE fez na sexta-feira em que o caso foi conhecido foi de que "esse erro deveria ser explicado porque já tinha sido travado" e que Ricardo Robles "se tinha comportado de uma forma irrepreensível com os seus inquilinos, não tinha usufruído do seu cargo para a sua vida particular e tinha travado o negócio que era contrário" aquilo que é defendido pelo partido.
Numa nota enviada à agência Lusa na noite de sexta-feira, a comissão política do BE defendeu que a conduta do até então vereador "em nada diminuía a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e que continuará a propor".
Questionada sobre quando tinha tido conhecimento deste imóvel, Catarina Martins respondeu que nunca tinha falado sobre este tema com Ricardo Robles e que não sabia desta situação.
Para a líder bloquista, "é verdade que havia explicações para dar e não havia condições para as dar", mantendo "a indignação com notícias falsas" que surgiram - apesar do "enorme respeito pelo jornalismo de investigação e pelo escrutínio -, atribuindo-as "a uma agenda política".
"Temos tido uma direita que não tendo programa político, tem vivido de casos. Vive de criar casos. E o problema não é o Ricardo Robles, o problema não é o Bloco, o problema é uma direita que precisa desses casos e é também um ataque que essa direita faz", acusou.
Catarina Martins foi perentória: "tenho a certeza que há muitos interesses que se movem para adiar o máximo possível a entrada em vigor da lei que altera o direito de preferência dando mais poderes aos inquilinos".
Sobre a questão interna do partido e questionada sobre as declarações do fundador do BE Luís Fazenda, que na segunda-feira afirmou ao jornal i que seria necessário "tirar conclusões" de uma situação que é condenável do ponto de vista dos bloquistas, a líder bloquista considerou que "houve uma interpretação abusiva" destas declarações, uma vez que o dirigente "tem tido, como toda a direção, uma posição solidária, de debate muito franco".
"Tendo nós opiniões diferentes, os comunicados foram aprovados por 90% da Comissão Política do BE. Existe uma moção minoritária do BE que tem sido, de uma forma coerente, contra os acordos. A sua posição foi coerente com a posição que tem feito sempre", explicou.
Já em relação à posição assumida pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que garantiu ter a "consciência tranquila" com a sua forma de fazer política, sem se servir a si próprio, ao comentar os riscos de casos como o do bloquista Ricardo Robles, Catarina Martins disse apenas: "estou certa que essa frase é absolutamente verdadeira, como sei que Jerónimo de Sousa sabe que também se aplica aos dirigentes do BE".
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