A cerimónia aconteceu esta tarde na Igreja Matriz de Fátima, no concelho de Ourém, distrito de Santarém e, para os noivos, o ato comprova a abertura da Igreja Católica, dando um “sinal de tolerância” e de “compatibilidade entre as duas religiões”.
“Sempre que contámos a alguém sobre o casamento, todos ficaram surpreendidos – ninguém sabia que era possível casar com uma pessoa muçulmana numa igreja. É uma boa ocasião para mostrar que é possível”, disse Toni Jorge à agência Lusa antes da cerimónia.
Oumayma, por seu lado, vê “muita frustração entre as pessoas novas” quando querem relacionar-se com alguém de outra religião. “Têm medo do que pode acontecer. O nosso casamento é um exemplo do que pode acontecer”, afirmou.
A relação entre ambos começou em março de 2020, em Espanha, quando celebravam os respetivos aniversários em Sevilha, “mesmo antes da covid explodir e do confinamento”.
A pandemia e a distância – moram em França, em cidades afastadas por centenas de quilómetros – tornaram difícil o namoro. “Mas lá fomos conseguindo encontrar-nos”.
Em dezembro de 2022, surgiu o pedido de casamento de Toni. A diferença de credos foi irrelevante na decisão, tanto dele como dela.
“Somos ambos crentes, eu acredito em Deus, ela acredita em Deus. Temos diferentes religiões, mas sabemos que ambas têm os mesmos valores. Isso é o mais importante. Não importa se rezamos de forma diferente ou não”.
Toni Jorge, que nasceu em França, filho de pais emigrantes, naturais de Fátima, tinha um desejo extra: celebrar a união na cidade da família.
“Sendo eu português e de Fátima, esta Igreja Matriz tem muito simbolismo para mim. Os meus pais foram batizados aqui, casaram aqui, e eu e os meus irmãos também fomos batizados aqui. Sempre tive a ideia de casar aqui”, assumiu.
Oumayma, que até nem queria um casamento com cariz religioso, fosse ele qual fosse, aceitou. “Quando percebi que era algo que o podia fazer feliz, a ele e à família, e que não me sentiria incómoda com isso, disse: ‘tudo bem'”.
Menos tranquila foi a gestão familiar do assunto. “Os meus pais não ficaram muito agradados, mas aceitaram”, contou a tunisina, que teve de lidar com a resistência de um irmão e da irmã. “Queriam que ele se convertesse. Eu disse ‘não, nem pensar, não vou forçar ninguém a mudar de religião por minha causa”.
Os pais e um outro irmão de Oumayma estiveram hoje presentes na cerimónia na igreja de Fátima. Antes do casamento, a noiva esperava que essa experiência fosse “boa para eles”, pelo contraste com o conservadorismo que caracteriza as gerações muçulmanas, especialmente as mais velhas. “Para verem que é bom ser aberto a outras religiões”.
Confrontados com o desejo do filho de casar com uma muçulmana em Fátima, os pais de Toni reagiram com ceticismo, mas por outro motivo: “Disseram que estava doido, que o padre nunca iria aceitar!”.
Oumayma lembra-se de que todos os amigos lhes diziam o mesmo. Mas o noivo não desistiu e foi falar com o pároco. “Foi muito acolhedor. Disse que faziam casamentos mistos e que bastava que um de nós fosse católico e batizado”, lembrou a noiva.
Hoje, a cerimónia foi parcialmente celebrada em francês pelo padre Rui Marto, para que Oumayma percebesse.
“Como cristão agrada-me saber que a minha religião está mais aberta e a aceitar melhor os outros. A religião é isso: aceitar as pessoas, independentemente da nacionalidade, da sexualidade, etc”, afirmou Toni.
Na festa preparada para comemorar a união entre Toni e Oumayma Jorge, marcaram presença quase centena e meia de convidados.
“Escolhemos pratos principais sem porco”, alimento proibido pelo livro sagrado dos muçulmanos, o Corão. “Assim comem todos, tanto católicos como muçulmanos”, disse Toni Jorge antes da boda.
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