Numa intervenção na reunião de câmara de quarta-feira, o vereador Carlos Almeida (CDU) recordou que a degradação da superfície das chapas de cobertura liberta constantemente fibras de amianto, que são levadas pelo vento para as urbanizações junto ao quarteirão da velha fábrica e que estas fibras, quando inaladas, podem provocar vários tipos de cancro.
“Estas fibras minerais de amianto em suspensão no ar, quando inaladas, são fortemente causais de vários tipos de cancro, que se podem manifestar vários anos após a contaminação das vítimas”, sublinhou o responsável da CDU, lembrando que a degradação a que as instalações da antiga transformadora de cortiça têm sido votadas faz com que ocorram “colapsos parciais” das chapas de cobertura.
A juntar a esta preocupação, o vereador recorda que as três chaminés da antiga fábrica estão igualmente em mau estado, especialmente uma delas, que ameaça ruir sobre as coberturas.
“É preciso retirar as placas de fibrocimento, pois, se as chaminés caírem já é uma perda sob o ponto de vista do património industrial, mas se caírem e se projetarem sobre aquelas infraestruturas, que não atinjam placas que tenham amianto que possa ser libertado para a atmosfera”, afirmou o vereador em declarações à agência Lusa.
Em imagens divulgadas pela CDU é possível ver o estado de degradação das três chaminés, com fendas abertas na estrutura de alvenaria e tijolo e algumas das cintas de aço que haviam sido colocadas como segurança partidas ou corroídas.
Duas destas chaminés estão já inclinadas e uma delas está em risco de colapso, que, a ocorrer, caindo em cima das coberturas de placa de fibrocimento, formará “uma nuvem de poeiras ricas em amianto”, lembrou o vereador.
O caso da degradação das instalações da antiga fábrica da INFAL já havia sido abordado na Assembleia Municipal do Montijo, no passado mês de fevereiro, com a CDU a apresentar uma recomendação à autarquia para que executasse, “de forma urgente, as medidas necessárias para salvaguardar a segurança de pessoas e bens face ao risco de colapso” de uma das chaminés.
Nessa altura, segundo Carlos Almeida, a autarquia respondeu que “as entidades competentes teriam estado no local, visto que teria havido projeção de material e que a situação estaria a ser acompanhada e não havia caso para qualquer receio”, uma posição que não descansou os eleitos pela CDU.
“As chaminés têm fissuras enormes e algumas cintas que procuraram evitar a degradação, mas não evitaram a sua inclinação e é de prever que, com qualquer intempérie, se projetem sobre a cobertura de fibrocimento”, afirmou.
“Se é que podemos ficar descansados se as projeções ocorrerem apenas no perímetro da fábrica. É que os ventos e a chuva farão por certo com que aquelas partículas se espalhem na atmosfera e se infiltrem no solo e nos lençóis freáticos”, avisou o autarca.
O vereador manifesta ainda preocupação com o facto de não ter havido, em quatro anos (no último mandato autárquico), “notícia da existência de qualquer reunião, nem da Comissão Municipal de Proteção Civil [que junta o presidente de câmara, bombeiros, forças de segurança e autoridades de saúde], nem do Conselho Municipal de Segurança, à margem do que está definido na lei”.
O vereador reconhece que a população “não tem noção deste perigo”, lembrando que a opinião pública ficou nos últimos anos alerta sobretudo para a situação das escolas e dos edifícios públicos com amianto, mas reconhecendo que, no caso dos provados, como é o caso da INFAL, o caso é mais complicado de detetar.
Numa ação de limpeza promovida pela autarquia e pelo Ministério do Ambiente há sete anos, foram removidos bidões com solventes, vernizes e águas contaminadas que haviam sido deixados pela administração no interior das instalações após a falência da fábrica e que constituíam uma ameaça para os solos e para a saúde pública.
A Lusa contactou a autarquia para saber o que foi feito desde que o assunto foi abordado na Assembleia Municipal, em fevereiro, mas não recebeu resposta em tempo útil.
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