Pedro Adão e Silva (Ministro da Cultura) — "O Ano da Morte de Ricardo Reis"

Num romance em que toda a riqueza do estilo e da imaginação de José Saramago se evidencia, somos convidados a viajar pelos anos 30, pela literatura portuguesa, numa homenagem tão elegante quanto consequente a Fernando Pessoa, mas, especialmente, pela cidade de Lisboa, magnificamente reconstruída entre o quotidiano e o bizarro, o real e o mistério, num percurso em que só a prosa de um mestre da alegoria como Saramago nos poderia orientar.

Carlos Moedas (Presidente da Câmara Municipal de Lisboa) — "A Jangada de Pedra"

A "Jangada de Pedra" é um dos meus livros preferidos de José Saramago. Publicado em 1986, descreve a separação da Península Ibérica da Europa e a sua viagem como se fosse uma jangada, até se fixar entre a América do Sul e África. 

Como o próprio autor referiu, este livro “foi entendido de diversas maneiras, sobretudo negativas. Foi dito e mil vezes redito que era um livro contra a Europa que se estava a construir, como se um mero romancista pudesse competir com factos económicos e políticos de semelhante dimensão”.

Mas, como explicou Saramago, o que o autor apreciaria era “que a Europa deixasse de ser o continente egoísta que foi até hoje para se converter, interpretando de uma maneira nova, as suas tradições, a sua cultura, a sua História, numa entidade moral que acrescentasse ao que tem de positivo uma dimensão que até agora não assumiu”.

O que quero destacar é a dimensão premonitória fortíssima de Saramago nesta necessidade hoje por todos sentida de que a Europa junte à sua dimensão política, económica ou social, a dimensão humana e da cidadania. Esta premonição veio a revelar-se inequívoca e por isso aqui a quero sublinhar.

Paula Santos (Deputada do PCP) — "Levantado do Chão"

"Levantado do Chão", de José Saramago, é um romance ímpar na literatura portuguesa, que nos fala da heróica luta dos trabalhadores agrícolas do Alentejo. Nele estão presentes décadas e décadas de luta, de diversas gerações, a resistência ao fascismo e o sonho de um dia a terra ser entregue a quem a trabalha.

"Levantado do Chão" retrata as duras vidas de homens e mulheres e revela sobretudo o seu exemplo de firmeza, coragem e determinação, num permanente confronto entre classes, entre latifundiários e assalariados agrícolas. 

O romance termina com a entrega da terra a quem a trabalha, com o avanço da Reforma Agrária na sequência da Revolução de Abril, dando corpo à luta e ao sonho de gerações.

Anos mais tarde, a contrarrevolução desferiu um duro golpe contra esta conquista, mas isso não apaga os ensinamentos de "Levantado do Chão", em particular a importância da unidade, da organização e da luta como fundamentais para avanços e progresso. Ensinamentos de enorme relevância nos tempos que vivemos.

Diogo Amaral (Ator) — "Intermitências da Morte"

Adorei este livro porque me obrigou a imaginar um cenário que não faz qualquer sentido no mundo fora da ficção. Lembro-me de ficar fascinado com esta utopia quando li este livro, nomeadamente com todas as implicações que a ausência de morte nos traria. O que à partida poderia ser uma boa notícia, rapidamente nos faz perceber que a morte é também necessária e que a vida tem mesmo de ter um início e um fim.

João Costa (Ministro da Educação) — "Todos os Nomes"

É difícil eleger um livro quando foram tantos os que me prenderam da primeira à última página. Escolho "Todos os Nomes". 

"Todos os Nomes" é, a par de outras obras de Saramago, um convite à reflexão sobre a essencialidade da existência. Somos histórias e temos registos, mas nem os registos nos fazem pessoas, nem todas as histórias nos conferem identidade. Somos teia e relação, somos singulares no anonimato, somos complexidade na identidade.

O Sr. José não é o funcionário. É o colecionador de vidas e o curioso pela existência. O registo escolhido “por engano” desafia-nos a olhar para todos aqueles com quem nos cruzamos e a abandonar o impessoalismo, a desumanização e o registo do outro, conhecendo e aprofundando a história real de cada vida. "Todos os Nomes" é um livro quase sem nomes, porque é um convite para irmos para além do nome. É um registo do que o registo não regista.

Alexandre Poço (Deputado do PSD) — "As Intermitências da Morte"

"No dia seguinte ninguém morreu." É um livro que, de certa forma, nos faz olhar para o fenómeno da morte com um olhar mais reconfortante e conformado do que é habitual, ao mesmo tempo que abre uma sarcástica reflexão do que a morte simboliza em termos sociais, afastando a nossa visão da morte face à que temos quando perdemos alguém na nossa vida pessoal, familiar e afetiva.

É também um livro que me fascina por, na esteira de outros autores do século XX, questionar o sentido de tudo o que fazemos em vida e da relação que a dupla vida-morte significa para a nossa sociedade, mas também – e de forma muito mordaz e acutilante – para a nossa economia e para as decisões que todos os dias se tomam. Ao longo de toda a leitura, recordamos muitas vezes aquela crua verdade de que a morte é fundamental à vida.

Regina Duarte (Comissária do Plano Nacional de Leitura 2027) — "A Jangada de Pedra"

A Jangada de Pedra é o meu livro favorito de José Saramago, mas é também um dos preferidos da minha vida. Encontrei, ao seguir aquele fio azul, um grupo de pessoas que, como as minhas, se ancoram e lidam com a adversidade em conjunto, gravando momentos de grande beleza na memória para sobreviver aos momentos de escuridão.

Alma Rivera (Deputada do PCP) — "O Ano da Morte de Ricardo Reis"

O Ano da Morte de Ricardo Reis mergulha-nos numa época de súbitos e acelerados desenvolvimentos, quer falemos da Guerra Civil de Espanha ou da Revolta dos Marinheiros.

1936 é também um ano em que o fascismo em Portugal recrudesce, com a abertura do campo de concentração do Tarrafal. Nesse outubro de 1936 chegam os primeiros 152 presos ao Tarrafal, muitos nunca julgados e outros tantos com a pena já cumprida. São recebidos pelo Chefe Manuel Reis e pelas suas palavras demasiadas vezes premonitórias: quem vem para o Tarrafal, vem para morrer.

São tempos de tomada de posição, de resistência ou de alinhamento com o poder dominante, em que não é possível ficar no muro. Um tempo triste, mas que não permite contemplações. É preciso agir, tomar partido, lições úteis nos dias que vivemos.