“Aquilo que nós fomos informados é que a partir de junho o hospital vai deixar de receber os novos doentes oncológicos e essa situação quanto a nós é uma situação de enorme gravidade”, afirmou à agência Lusa o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, insistindo que “um hospital daquela dimensão” não poder tratar novos doentes oncológicos “a partir de 15 de junho é uma situação gravíssima”.
Carlos Cortes esteve na terça-feira reunido com diretores de serviços, de unidades e coordenadores do CHTV, um dia depois destes terem apresentado a suspensão de funções em protesto contra a “degradação progressiva de vários serviços” na unidade de saúde.
Na segunda-feira, os responsáveis dos diferentes serviços do CHTV apresentaram, formalmente, “a suspensão imediata” das suas funções na direção dos serviços”, por diversas razões “alicerçadas nos inúmeros problemas particulares de cada serviço”, afirmam num documento a que a Lusa teve acesso.
“O desaparecimento completo da atividade do diretor clínico” e a “completamente inaceitável” (e “mais grave”) substituição, “em manifestações públicas da vida clínica hospitalar pelo vogal executivo [do conselho de administração]”, engenheiro [Francisco] Faro” é outro dos motivos apontados pelos subscritores do documento, dirigido ao diretor clínico que é, também, o presidente da administração do CHTV, Cílio Correia.
Hoje, Carlos Cortes considerou que esta foi uma decisão de “enorme coragem, de grande responsabilidade dos diretores de serviço que puseram o seu lugar à disposição, demitiram-se das suas funções, porque o caminho que estava a ser tomado pelo hospital” nada “tem a ver com opções clínicas, com opções na defesa da qualidade dos cuidados de saúde, na defesa dos doentes”.
Declarando-se “deveras impressionado com aquilo que lhe foi relatado” na reunião, o dirigente da Ordem dos Médicos destacou “o impacto que as decisões neste último ano do conselho de administração têm tido”.
A este propósito referiu-se à situação da oncologia médica, “que é um serviço completamente esquecido daquele hospital”, onde a partir de junho serão apenas dois médicos, além de que os espaços para o tratamento dos doentes oncológicos “são extremamente reduzidos, sem nenhuma condição” para os receber.
Carlos Cortes adiantou que a Ordem foi informada pelos diretores das especialidades cirúrgicas que “todos os meses estão a sair à volta de cem doentes em média daquele hospital simplesmente por razões economicistas”.
“Significa que existe a capacidade técnica dos cirurgiões para intervencionar esses doentes, mas por decisão do conselho de administração, que entende que é mais barato esses doentes serem operados fora daquele hospital, esses doentes não são operados” no CHTV, adiantou.
Para Carlos Cortes, quando se começa “a pensar desta forma o serviço público de saúde então significa que é o princípio do fim do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.
O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos abordou igualmente a “situação transversal a todos os serviços”, a dos equipamentos, que “estão todos obsoletos, já não funcionam convenientemente”.
“Deram-me a informação que não foi renovado nenhum contrato de manutenção dentro do hospital”, referiu Carlos Cortes, exemplificando com o mamógrafo, “onde as doentes estavam a ter mais radiações do que aquelas que deviam ter”, porque aquele não funcionava e as utentes “tinham de repetir várias vezes o exame”.
O dirigente da Ordem sublinhou que os médicos recusaram-se a continuar nesta situação, pelo que as mulheres que necessitam de fazer mamografias “já não as fazem no hospital”, mas noutras unidades públicas ou privadas.
Na sequência do pedido de suspensão de funções dos diretores de serviço do CHTV, o Sindicato Independente dos Médicos considerou esta “situação lamentável e irregular”, criando um “prejuízo sério para a atividade clínica e para a segurança dos doentes”.
Já o PSD de Viseu disse que os serviços CHTV estão próximos da rutura e acusou a administração de ignorar os problemas da instituição, enquanto o Bloco de Esquerda perguntou ao Governo que medidas vão ser desencadeadas na sequência da apresentação da demissão.
Por seu turno, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, afirmou que as ameaças de demissões no Centro Hospitalar de Tondela-Viseu são “um grito de alerta” ao Governo pelo desinvestimento no SNS, tendo o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, afirmado que a situação no CHTV será resolvida a breve prazo.
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