Em declarações à Lusa, na praça Luís de Camões, onde se concentraram ao fim da tarde cerca de 500 pessoas, Rosa Monteiro explicou que estava presente não só como governante, mas “como cidadã e como mulher política” para se solidarizar com o povo brasileiro perante o silenciamento “de uma ativista, uma mulher política”.
“Esta é a minha homenagem à Marielle [Franco, vereadora do Rio de Janeiro morta a tiro a 14 de março]”, frisou, defendendo que “o seu assassinato brutal não pode significar que se calem estas vozes”.
“Temos de continuar no ativismo, a defender e a promover os direitos humanos das mulheres lésbicas, das mulheres negras, das vozes que geralmente são excluídas no combate contra o racismo, contra a lesbofobia”, sustentou.
Para a secretária de Estado, apesar desta voz política que se calou, “as causas que Marielle defendia e promovia não se podem calar, nem no Brasil, nem no resto do mundo, que está cada vez mais adverso para a defesa de direitos humanos”.
Inquirida sobre a possibilidade de a vereadora ter sido silenciada no âmbito da intervenção militar em curso no Rio de Janeiro, ordenada pelo Presidente, Michel Temer, Rosa Monteiro respondeu ser necessário denunciar esse tipo de ação.
“Nós temos realmente de sinalizar aquilo que de negativo se passa no Brasil, com estas intervenções violentas e atentatórias de princípios básicos dos Estados de direito democráticos, e portanto, a luta deve ser, nesse sentido, uma luta de todos os níveis de Governo também no Brasil”, sustentou a governante portuguesa.
Por sua vez, a deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua disse à Lusa estar presente “para lamentar a morte de uma mulher que foi executada com quatro tiros na cabeça numa favela do Brasil”, mas não só.
“[Também] para dizer bem alto que sabemos porque é que ela morreu, e são as razões que levaram à sua morte que devem fazer-nos levantar para lutar: ela morreu porque era uma mulher, negra, favelada, lésbica — morreu por tudo isso, mas sobretudo por lutar pelos favelados, pelos negros, por lutar pelos direitos, pela democracia no Brasil”, sublinhou.
Isto, prosseguiu, “num momento em que o Governo da direita está a invadir favelas com forças militares, está a tratar a pobreza como se fosse crime, está a tratar os negros como se tivessem todos cadastro — e isto é uma forma de exclusão social, de repressão social armada, militar, é um atentado à democracia no Brasil, e nós temos sempre que lembrar que atentados à democracia não têm fronteiras, nem têm Atlântico pelo meio”.
“Na Europa, também estão a avançar movimentos de extrema-direita, forças fascistas, xenófobas; e quando nos levantamos para dizer que há direitos das mulheres que têm de ser defendidos e que não é próprio de um regime democrático executar mulheres e homens por lutarem pelos seus direitos, estamos a defender também a democracia aqui, e estamos a defender também o nosso direito de lutar em liberdade aqui”, defendeu Joana Mortágua.
A deputada socialista Isabel Moreira disse à Lusa que o que a levou a marcar presença no protesto foi “o feminismo, o amor à democracia e a certeza de que Marielle não pode ter morrido em vão”.
“Marielle foi executada, profissionalmente executada, por ser favelada, por se ter atrevido a vir da periferia para os estudos para ter uma voz, por ser negra, lésbica, defensora das minorias, defensora dos direitos humanos, denunciadora da intervenção militar, das mortes incontáveis que ela todos os dias denunciava – e por isso é um símbolo, é um símbolo inteiro que foi executado”, sustentou.
A sua esperança, apontou, “é que esta e outras manifestações demonstrem que a Marielle não morreu, que a Marielle pode ser uma explosão no Brasil”.
“Para que aqueles que estão no poder, aqueles que ainda estão saudosos da ditadura e que nunca perdoaram a pessoas como a Marielle, pessoas que se atreveram a ir mais longe, possam ser afastados num grande ‘Fora Temer!’ que se escute no Brasil mas se escute também em outros países, em solidariedade com o Brasil”, rematou.
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