Rui Rio, que falava aos jornalistas na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, à entrada para um jantar de comemorações do Ano Novo Chinês, referiu que ainda não teve oportunidade de analisar a auditoria, mas ao folheá-la ficou com "uma sensação muito má".
"Acho que está tudo truncado, muita informação escondida. Acho que é um desrespeito pelo parlamento o Banco de Portugal mandar uma auditoria naqueles termos. Não se consegue perceber grande coisa. Está tudo cheio de espaços em branco. Não é muito edificante", declarou.
O líder dos sociais-democratas quer que a comissão de inquérito exija ao Banco de Portugal uma auditoria "nos termos do respeito que os deputados merecem e nos termos do respeito que o povo português merece", acrescentando que "quem pagou aquilo foi o povo português".
"Fiquei chocado com o que vi, independentemente dos números, datas ou nomes que lá estejam, mas que estão em branco. É de uma relativa opacidade face ao esforço que os portugueses fizeram com cinco mil milhões de euros de impostos", salientou Rio.
A CGD está envolvida em nova polémica desde a semana passada devido à divulgação da versão preliminar (de dezembro de 2017) de uma auditoria da YE à gestão do banco entre 2000 e 2015, que revelou concessão de créditos mal fundamentada, atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, interferência do Estado e aprovação de empréstimos com parecer desfavorável ou condicionado da direção de risco.
O presidente da CGD, Paulo Macedo, entregou hoje ao início da tarde, no parlamento, a versão final da auditoria, depois de a Procuradoria-Geral da República não se ter oposto à sua divulgação, que já está disponível no 'site' da Assembleia da República.
Depois, em conferência de imprensa de apresentação de resultados do banco público, Paulo Macedo adiantou que a versão preliminar da auditoria tem uma data anterior à finalização do trabalho de campo pela consultora que a realizou, uma vez que esse trabalho de campo só terminou em 31 de janeiro de 2018, e que ainda não tinham falado com várias das pessoas envolvidas nos processos de crédito, designadamente administradores.
"Eu relembro que não é neste banco que há pessoas condenadas pelo Banco de Portugal, nem sequer há ninguém condenado, nem ninguém foi objeto de processos formais, e poderá haver processos-crimes, mas o que é certo é que processos-crimes existem noutros bancos e não neste", afirmou na ocasião Paulo Macedo.
A CGD teve lucros consolidados de 496 milhões de euros em 2018, bem acima dos 51,9 milhões de euros registados em 2017, divulgou hoje o banco público.
Convidado a comentar as palavras do presidente da CGD, Rui Rio disse esta noite que "o atual conselho de administração da Caixa revelou os resultados do ano passado que são positivos, algo que deve ser aplaudido".
"Mas ninguém vai, penso eu, querer escrutinar o que se passa na Caixa ou o que se passou no passado que não tem qualquer reflexo negativo hoje, como pessoas que têm empréstimos e estão a cumprir. É normal dever à banca, o que não é normal é não cumprir e, particularmente, não cumprir nos montantes que ali estão. Acho que o conselho de administração da Caixa não tem nada a temer. Ninguém vai querer prejudicar a Caixa, bem pelo contrário", referiu Rui Rio.
Já questionado sobre a quem atribuir responsabilidades pela eventual má gestão na CGD, o presidente do PSD apontou "os diversos conselhos de administração".
"Agora através da auditoria e da comissão de inquérito vai conseguir-se apurar em termos políticos com o devido pormenor [quais os responsáveis]. E, eventualmente, a componente de ordem criminal está a ser apurada pelo Ministério Público", concluiu.
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