“As discussões foram construtivas, mas não conseguimos chegar a acordo apesar dos meus esforços”, declarou Rafael Grossi aos jornalistas no primeiro dia de um Conselho dos governadores daquela instância da ONU em Viena.

Após semanas de um “silêncio” qualificado de “surpreendente”, Grossi esperava a obtenção de progressos em diversos assuntos divergentes.

Mas “claramente não, não conseguimos avançar”, indicou.

A AIEA está preocupada com as restrições às inspeções impostas desde fevereiro pelo Governo iraniano, que “comprometem seriamente” as atividades de verificação, indica um recente relatório.

Outra questão em suspenso relaciona-se com a situação em quatro locais não declarados, onde foram detetadas substâncias nucleares.

O tratamento dado aos inspetores da AIEA também suscita preocupação, depois de alguns deles terem sido “revistados de forma excessivamente intrusiva por agentes da segurança”, segundo a agência da ONU.

Cada país deve comprometer-se legalmente a “proteger os agentes de qualquer intimidação”, precisou o chefe da AIEA.

“Mas os nossos colegas iranianos”, ao invocarem motivos de segurança, “aplicaram uma série de medidas que são incompatíveis com essa atuação”.

“A questão foi abordada e espero que semelhantes incidentes não se repitam”, sublinhou Grossi.

Após a sua chegada a Teerão na noite de segunda-feira, Rafael Grossi encontrou-se com o chefe da Organização Iraniana de Energia Atómica (OIEA), Mohammad Eslami, e com o chefe da diplomacia, Hossein Amir-Abdollahian.

“Na sequência destas consultas”, Grossi optou por anular à última hora a conferência de imprensa que estava prevista para a tarde de terça-feira no seu regresso ao aeroporto de Viena.

“Aproximamo-nos de uma situação em que não posso garantir a continuidade do conhecimento” do programa nuclear iraniano, advertiu o diretor-geral da AIEA.

Este fator é um dos pontos decisivos do acordo internacional sobre o nuclear iraniano, concluído em 2015 em Viena mas congelado desde a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018.

Após cinco meses de suspensão, as negociações entre Teerão e os restantes países que ainda integram o acordo de 2015 (Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia) devem ser retomadas na segunda-feira, com a participação indireta de Washington.

O histórico documento previa o levantamento de parte das sanções aplicadas ao Irão em troca de uma redução drástica do seu programa nuclear, sob estrito controlo da ONU.

No decurso da presidência de Donald Trump, e após abandonarem unilateralmente o acordo, os Estados Unidos decidiram reforçar as sanções impostas ao Irão, que em resposta abandonou progressivamente os seus compromissos.