"Tive contacto com o primeiro-ministro de São Tomé e, num primeiro momento, parecia estar tudo normalizado e eram boas notícias, [mas] desde então temos notícia de mortes de alguns dos insurrecionistas”, declarou João Gomes Cravinho.

Falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas no final de Conselho de Negócios Estrangeiros, vertente de Comércio, o chefe da diplomacia portuguesa acrescentou: “Não tenho informação final sobre essa matéria, mas naturalmente que é perturbador e condenamos em absoluto qualquer tentativa de utilização de violência para chegar a fins políticos”.

“É uma situação que está ainda numa fase dinâmica e, portanto, não quero fazer comentários definitivos sobre a matéria, exceto para dizer que a ordem constitucional deve ser respeitada absolutamente por todos”, assinalou Gomes Cravinho.

Já questionado se a tutela recebeu algum pedido de ajuda da comunidade portuguesa em São Tomé, o ministro dos Negócios Estrangeiros respondeu não ter tido “nenhuma indicação nesse sentido”.

Pelo menos quatro pessoas morreram em São Tomé na sequência da ação, que o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, identificou como "tentativa de golpe de Estado".

Segundo informações divulgadas pelo chefe do Governo, cerca das 00:40 locais (mesma hora em Lisboa), quatro homens, civis, assaltaram o quartel na capital são-tomense, alegadamente com a cumplicidade de militares. Os atacantes fizeram refém o oficial de dia, que ficou gravemente ferido após agressões, mas encontra-se livre de perigo.

O ataque foi neutralizado pouco depois das 06:00, após intervenção dos fuzileiros.

O ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves e Arlécio Costa, antigo oficial do ‘batalhão Búfalo’ que foi condenado em 2009 por uma alegada tentativa de golpe de Estado, foram alegadamente identificados pelos assaltantes como mandantes do ataque, tendo ambos sido detidos pelos militares, nas suas respetivas casas, ao início da manhã, e levados para o quartel.

Arlécio Costa e três dos assaltantes morreram, disse à Lusa fonte ligada ao processo, ao início da tarde.

“Não se trata de um roubo, não se trata de um furto. Trata-se de um ataque com armas de guerra às Forças Armadas do país e temos primeiro que resolver esse problema”, adiantou hoje de manhã o primeiro-ministro.

O chefe do Governo disse que a “tentativa de golpe” é uma situação “de extrema gravidade”, mas assegurou então que “as Forças Armadas têm a situação sob controlo”.

Patrice Trovoada pediu “mão firme” da justiça para os responsáveis da tentativa de golpe, depois de ter anunciado a detenção de Delfim Neves e de Arlécio Costa pelos militares.

Líder da Ação Democrática Independente (ADI), Patrice Trovoada assumiu há duas semanas o cargo de primeiro-ministro, pela quarta vez, na sequência da vitória com maioria absoluta nas legislativas de 25 de setembro.

Delfim Neves presidiu ao parlamento são-tomense durante o anterior mandato (2018-2022) e candidatou-se às legislativas de setembro com o recém-criado Basta, tendo sido um dos dois eleitos para o parlamento por este movimento. Encontra-se atualmente com o mandato suspenso, tendo sido substituído na Assembleia Nacional.