Em entrevista ao Diário de Notícias (DN) e à TSF, o general Mendes Ferrão diz que o principal problema do Exército está na falta de efetivos, mas adianta que este ano conseguiram implementar algumas medidas que contribuíram para recrutar mais, mas sobretudo para reter pessoas.
“Uma das medidas foi uma melhoria comunicacional de proximidade com a juventude que queremos recrutar. O jovem começa a comunicar connosco desde o primeiro contacto, através do ‘Whatsapp’, tem um tutor dedicado que responde pessoalmente às suas dúvidas. Ainda é cedo para medir o alcance das medidas que recentemente foram aprovadas e que, sobretudo, se refletem no aumento do dinheiro vivo que os nossos militares têm ao fim do mês na sua conta”, disse.
O chefe do Estado-Maior do Exército refere que 2024 vai terminar com os mesmos efetivos com que começaram em 2023, sublinhando que este ano atingiram as 4.500 candidaturas, igual ao número do todo o ano passado.
Na entrevista, o general Mendes Ferrão considerou que o investimento na Defesa tem de ser em contínuo, em permanência.
“Não podemos ter uma capacidade, depois apagou, depois queremos outra, Tudo isto demora muito tempo a construir nas suas vertentes. Não é só ter o equipamento, é preciso ter formação, infraestruturas, cuidar das pessoas. A história tem-nos mostrado que não temos conseguido manter um investimento constante na Defesa e, sobretudo, nos processos de reequipamento”, salientou.
De acordo com o general, no “caso do Exército houve muitas capacidades que praticamente desapareceram” e “ninguém queria ouvir falar das capacidades de combate”.
“Ora um Exército que não tem capacidades de combate não é um Exército”, disse.
Questionado sobre se deveria haver adaptações à Lei da Programação Militar (LPM), tendo em conta o contexto atual, o general Mendes Ferrão avisa que vai ser preciso reforçar alguns dos programas que considera essenciais.
“Já na altura, o que estava na LPM não satisfazia todas as necessidades do Exército. Pensou-se em trabalhar com objetividade para cumprir aquilo que o país se comprometeu com a NATO para 2034. É assim que a nossa lei está desenhada. O que é que há agora de novo é o aumento dos preços e temos que fazer algumas variações, algumas capacidades que ganharam acrescida importância, nomeadamente a artilharia antiaérea. É crítica. Estamos sempre atrasados”, disse.
Na entrevista, o chefe de Estado-Maior do Exército considerou também que o desinvestimento não coloca em causa a capacidade de Portugal estar envolvido nas operações internacionais.
“Nós somos muito criteriosos quando assumimos a responsabilidade de projetar forças para as missões. (…) Temos de defender a leste e estabilizar o sul (…). A leste, participando nas operações da NATO, integrados nos Multinacional Battle Groups, quer na Roménia, quer na Eslováquia, com forças médias e forças pesadas. Começamos no ano passado na Eslováquia e temos a expectativa de em 2025 aumentar aí a nossa presença”, indicou, lembrando que Portugal tem pela primeira vez Operações Especiais em teatro europeu.
Questionado se um comandante militar daria um bom Presidente da República, o general disse que é a pessoa em si que conta e não a sua profissão.
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