"Uma vez que o Conselho de Administração e o Governo não responderam a qualquer das questões que os médicos colocaram - nomeadamente a contratação de especialistas para o serviço e a reorganização do serviço de urgência - e por considerarmos que a contratação de empresas de prestação de serviços pode mitigar o problema pontualmente, mas não tem nenhuma [consequência] estrutural, não há nenhuma razão para que os médicos não mantenham a demissão", disse à Lusa o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
As cartas de demissão foram entregues no início de agosto e foi dado à administração do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) um prazo de 15 dias (que terminou na terça-feira) para resolver a situação.
Um dos chefes de equipa contactada pela Lusa confirmou hoje que as cartas de demissão não foram levantadas.
Devido à falta de médicos, há uma “situação de contingência” no serviço de urgência de obstetrícia: “A nada ser feito, irá naturalmente fechar a médio prazo, porque, se neste momento os médicos com 55 anos decidissem deixar de fazer noites e com 50 anos deixassem de fazer urgências, não havia ninguém para fazer o serviço de urgência no hospital Amadora-Sintra", descreveu Roque da Cunha.
Segundo o responsável do SIM, o Ministério da Saúde e o conselho de administração do hospital, "tal como em outras matérias, não fizeram nada para que o problema fosse resolvido".
O sindicato e os médicos consideram que a proposta apresentada, de contratação de profissionais de empresas de prestação de serviços, ou tarefeiros, não é uma solução.
Assim, explicou Roque da Cunha, a responsabilidade pelos problemas que ocorram “é do conselho de administração, uma vez que os médicos já entregaram minutas de exclusão de responsabilidade".
Trata-se da "posição dos chefes de equipa da urgência que é corroborada pela esmagadora maioria dos médicos, que também se solidarizaram com os responsáveis das equipas", acrescentou.
O presidente do SIM disse ainda que os responsáveis políticos sabem que os médicos, enquanto não forem substituídos, "patrioticamente têm de manter-se nos seus lugares, e estão a contar com isso, mas esquecem-se de que a situação, caso exista algum problema, será responsabilidade do conselho de administração".
Outro problema apontado pelo sindicato é a incapacidade de fixar médicos: "Não só não contratam, como nos dois últimos anos saíram cerca de uma dezena de médicos".
A médica Teresa Matos, uma das chefes da equipa de ginecologia e obstetrícia do hospital, revelou na semana passada, durante uma visita do bastonário da Ordem dos Médicos, que em todas as situações o serviço esteve a funcionar com equipas abaixo do mínimo e várias grávidas tiveram de ser transferidas para outros hospitais.
O bastonário, Miguel Guimarães, defendeu na altura que o serviço precisa “com urgência” de mais cinco especialistas: “É uma emergência mesmo, porque, caso contrário, pode acontecer que a equipa de obstetrícia e ginecologia não possa funcionar em determinados dias”.
Teresa Matos, especialista que é também coordenadora do bloco de partos, lembrou ainda que o serviço tem “um corpo clínico envelhecido”. Dos 17 especialistas que fazem urgência, nove têm mais de 55 anos e dois têm 54, o que faz com que nada possa garantir que os médicos não apresentem, no próximo mês, uma recusa em fazer noites ou mesmo as urgências.
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