Após desfilarem por ruas limítrofes do Palácio La Moneda, os manifestantes depositaram coroas de flores na porta da sede do Governo, o local onde foi retirado o corpo de Allende, na sequência do assalto militar do 11 de setembro de 1973.
Neste ato evocativo estiveram presentes as direções da Convergência Social (CS), Partido Comunista (PC), Partido Socialista (PS) e Partido pela Democracia (PPD), para além de cidadãos independentes que entoaram cânticos, palavras de ordem e sublinharam o decisivo processo constituinte que o país andino atravessa, com o objetivo de elaborar uma nova Constituição que substitua o “texto fundamental” herdado da ditadura.
“Sem dúvida que a comemoração destes 48 anos do criminoso golpe contra Salvador Allende, que interrompeu um processo democrático de transformações profundas no país, ocorre num espaço político novamente conquistado pelo movimento popular a partir de 18 de outubro de 2019, permitindo que hoje tenhamos a possibilidade de redigir um pacto social digno”, indicou à agência noticiosa Efe Cármen hertz, deputada do Partido Comunista.
Em simultâneo, decorreram homenagens frente ao Palácio La Moneda – bombardeado pela aviação de Pinochet no decurso do golpe e onde Allende se terá suicidado –, e uma ampla manifestação que se iniciou no centro de Santiago do Chile, o tradicional local da concentração, para se dirigir ao Cemitério Geral e prestar homenagem às vítimas da ditadura no túmulo de Allende e no Pátio 29, onde presos políticos, em particular os “desaparecidos”, foram enterrados de forma anónima.
No trajeto registaram-se confrontos entre manifestantes e forças especiais da polícia militarizada chilena, que se colocaram em zonas próximas do cemitério e utilizaram canhões de água e gás lacrimogéneo.
“Viemos comemorar este aniversário do golpe porque agora, mais que nunca, temos de retomar o trabalho do processo político chileno, mutilado em 1973 e que não foi concluído”, disse à Efe Cláudio Tapia, um dos manifestantes presentes no exterior do cemitério.
O golpe de Estado que pôs termo a uma experiência de democracia popular no Chile, financiado e organizado com o apoio da CIA, os serviços secretos dos Estados Unidos, instaurou uma ditadura que provocou vários milhares de mortos, incluindo execuções sumárias, desaparecimentos e torturas generalizadas.
Apesar do início de um novo processo democrático após a derrota de Pinochet no plebiscito nacional de 1988, o ditador manteve-se no comando do Exército até 1998 e morreu em 2006 sem nunca ter sido julgado pelos crimes contra a humanidade cometidos pelo seu regime, para além de diversos delitos financeiros.
Desde julho passado, quando foi oficialmente inaugurada a Convenção Constitucional, o Chile debate uma nova Carta Fundamental que finalmente substituirá a redigida pela ditadura.
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