Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), é julgada a partir desta segunda-feira na França por suposta uma negligência que deu origem a um desvio de dinheiros públicos e que teve lugar quando era ministra da Economia de França. Lagarde pode ser condenada a até um ano de prisão e a pagar uma multa de 15.000 euros. O julgamento deve prosseguir até 20 de dezembro.
"Tentei fazer o meu trabalho da melhor forma possível, dentro dos limites do que sabia", disse Lagarde, 60 anos, numa entrevista que passou na televisão no domingo à noite. "A negligência é um delito não intencional. Penso que todos somos um pouco negligentes em alguma momento da vida", completou.
A diretora-geral do FMI será julgada por uma jurisdição excepcional, o Tribunal de Justiça da República (CJR), criado com o propósito de julgar os ministros e ex-ministros por delitos cometidos no exercícios de suas funções. Desde que foi criado em 1993, o CJR condenou três membros do governo. No início do mês, a justiça francesa condenou o ex-ministro das Finanças do presidente socialista François Hollande, Jérôme Cahuzac, por fraude fiscal e lavagem de dinheiro.
Lagarde, ex-ministra da Economia da França (2007-2011) durante a presidência de Nicolas Sarkozy, é acusada de "negligência" na gestão de um caso que envolve o empresário e ex-ministro socialista Bernard Tapie. Este último considerava ter sido prejudicado pelo banco público Crédit Lyonnais durante a venda da marca desportiva Adidas em 1994. Para resolver a disputa judicial iniciada por Tapie contra o banco, o ministério da Economia optou, em 2007, contra o critério de um órgão consultivo, por recorrer a uma arbitragem privada. Em 2008, os três juízes arbitrais concederam a Tapie uma indemnização de 404 milhões de euros, oriundas de fundos públicos.
Mas a justiça civil anulou a sentença arbitral no início de 2015, por considerar que ocorreu uma fraude. Tapie foi condenado a devolver os 404 milhões de euros. A justiça francesa acusa Lagarde por "negligência e precipitação" no caso, que "privou o Estado de uma oportunidade de evitar o desvio dos fundos".
Na sua alegação, a atual diretora do FMI afirma que o recurso à arbitragem foi preparado antes da sua entrada no governo - sendo verdade que não teve qualquer interferência na escolha dos árbitros - e que não tinha relações pessoais com os protagonistas do caso. Lagarde afirmou sempre que atuou de "boa fé" e a sua defesa anunciou que irá solicitar o adiamento do julgamento. Se tal não acontecer, a ex-ministra, que foi reconduzida este ano para o comando do FMI, informou já que irá tirar uma licença da instituição durante o processo em tribunal.
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