As Bolsas de Inovação Científica Professor Doutor António Lima de Faria, no valor anual de mil euros cada, têm um prazo de duração de cinco anos e serão patrocinadas, uma pela autarquia de Cantanhede, distrito de Coimbra e a outra pelo académico e investigador que completa 100 anos em julho de 2021.

Na sessão de hoje, a presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, Helena Teodósio, enalteceu a "ideia" de António Lima de Faria, acolhida pelo município, em criar as bolsas, destacando o "grande legado científico e humano" do especialista em genética.

Helena Teodósio recordou que António Lima de Faria, radicado na Suécia desde 1950, é desde 1991 o patrono de um galardão que premeia o aluno de Cantanhede com melhor média final do ensino secundário, tendo ainda entregado ao município um "importante" acervo documental e científico, onde se incluem diversos mapas de Portugal do século XVI.

Citando António Lima de Faria, a autarca frisou que, para o cientista, "mais importante do que o que está nos livros, é a curiosidade".

De acordo com o regulamento das bolsas, estas destinam-se a "jovens estudantes" do ensino secundário e superior, entre os 15 e os 35 anos, e contemplam a comparticipação de "encargos inerentes à participação num congresso nacional ou internacional ou à realização de um estágio de curta duração num laboratório, em Portugal ou no estrangeiro".

"O que implica, num e noutro caso, a demonstração do mérito por parte dos candidatos, através do resumo da apresentação ou do plano de trabalhos" que será avaliado pelo júri constituído pelos investigadores e docentes universitários Manuela Grazina, Carlos Fiolhais, Rodrigo Cunha e Manuel Castelo Branco.

A presidente do júri Manuela Grazina, disse, por ser turno, que conheceu António Lima de Faria em 2015, tendo este lhe transmitido a ideia da criação das bolsas "que servissem para a inovação científica".

A especialista em biologia celular e genética humana destacou a necessidade de divulgar a ciência "e incutir nos jovens a criatividade e espírito inovador", argumentando que, com o passar dos anos, a criatividade se vai perdendo.

"Ás vezes basta uma ideia, até muito ‘naif', mas essa ideia simples tem uma grande vantagem de não estar ainda contaminada", argumentou, acrescentando que a atribuição das bolsas incidirá "em qualquer área científica".

"A primazia é que seja uma ideia inovadora", enfatizou Manuela Grazina.

Já o cientista Carlos Fiolhais abordou a situação atual da pandemia de covid-19, frisando que esta "não para de modo nenhum a inteligência humana. Pelo contrário, aguça-a".

O especialista em física lembrou que Isaac Newton formulou a Teoria da Gravidade precisamente durante uma epidemia de peste, no século XVII: "Estava numa situação de confinamento durante uma grande peste", alegou.

Carlos Fiolhais disse ter conhecido António Lima de Faria primeiro "através dos livros", aludindo, nomeadamente, a uma obra em que o geneticista português "contestava a teoria de Darwin" de evolução das espécies.

"Ninguém conhecia aquele homem, era um ilustre desconhecido", notou Carlos Fiolhais, enfatizando que António Lima de Faria "nasceu no tempo logo a seguir à gripe espanhola [em 1921] e vai fazer 100 anos".

Destacou um encontro com investigador - que possui nacionalidade sueca desde 1954 - quando este se deslocou a Cantanhede há uns anos: "Lembro-me do à-vontade com que aquele homem de 90 anos dava aulas aos miúdos, sentado em cima da mesa", disse Carlos Fiolhais.