“Acreditamos que não havia muita margem de manobra para fazer diferente, seja na marcação de eleições, seja em criar condições para que, de alguma maneira, o orçamento pudesse ser aprovado. O único ponto com que nós, porventura, estamos em desacordo é com o tempo em que as eleições foram marcadas”, afirmou Armindo Monteiro em declarações à agência Lusa.

Segundo o líder da CIP — Confederação Empresarial de Portugal, a aprovação do OE2024 não seria, por si só, determinante, não fosse o atual contexto inflacionista: “O legislador já previu que em momentos de crise política o Estado possa funcionar com regime duodecimal, o que não nos causaria grande perturbação, mas, em contextos de inflação significativa, não é fácil manter um país a funcionar neste regime”, sustentou.

Armindo Monteiro está, contudo, assumidamente “em desacordo com o tempo em que as eleições foram marcadas” — 10 de março de 2024 -, considerando que “quatro meses é, claramente, muito tempo para que um partido se organize, referindo-se à justificação dada por Marcelo Rebelo de Sousa de que era necessário permitir ao PS que escolhesse um novo líder.

“Nas empresas, quatro meses é um longo prazo e gostaríamos que, também na política, houvesse uma capacidade de resolver os problemas num prazo mais curto. Achamos que os partidos devem estar constantemente em organização e ter soluções alternativas, porque também é isso que é exigido às empresas”, argumentou.

“As empresas têm que resolver problemas muito rapidamente, perante todas as circunstâncias que surgem, portanto não vemos razão para que os partidos políticos não tenham a capacidade de se adaptar às circunstâncias e à necessidade de serem rápidos a encontrar soluções”, enfatizou.

Questionado pela Lusa sobre a solução alternativa proposta pelo PS de o atual governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, substituir o demissionário António Costa no cargo de primeiro-ministro, mantendo o Governo em funções, o presidente da CIP considera que apenas contribuiria para “descredibilizar as instituições”.

“Esta ideia de passar de um órgão de regulação tão importante, de todo o nosso sistema financeiro, para funções executivas de um Governo… E depois, como é que seria? Voltaria ao Banco de Portugal”, questionou.

Para Armindo Monteiro, “Mário Centeno tem o perfil de um excelente economista e tem-no demonstrado no Banco de Portugal”, mas é essencial “não descredibilizar as instituições” e o Banco de Portugal “é uma organização que deve ser preservada na sua idoneidade e independência”.

O líder da CIP considera mesmo que não seria adequada a nomeação de qualquer outro nome indicado pelo PS para chefiar o Governo, evitando eleições: “Acreditamos que seria sempre um governo fragilizado, como, de resto, já tivemos na nossa história recente. Os governos que ficam fragilizados apenas adiam o problema”, considerou, sustentando que “um Governo de iniciativa presidencial não seria nunca um Governo de plenos poderes”.

Para a confederação, “é importante que Portugal não adie os seus muitos problemas e os resolva” e a melhor solução é “dar a voz aos acionistas — que são os eleitores –, que são quem tem de decidir o que pretendem para o seu futuro e encontrar uma solução de plenos poderes”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou na quinta-feira à noite que vai dissolver o parlamento e marcar eleições legislativas antecipadas para 10 de março.

A decisão do Chefe de Estado foi anunciada após uma reunião do Conselho de Estado, convocada na sequência do pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro, António Costa, alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e o ‘data center’ de Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.