Segundo os dados do Relatório de Tráfego do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), e cálculos da Lusa, para os troços da VCI situados no concelho do Porto, circularam diariamente 130.056 veículos entre as pontes do Freixo e da Arrábida, atravessando a cidade.

Os números representam um aumento de cerca de cinco mil veículos face a 2022, ano em que a média anual do tráfego médio diário atingiu os 125.582 na VCI no Porto.

No ano passado, o tráfego da VCI no Porto praticamente igualou os números de 2019, ano anterior à pandemia de covid-19, em que circularam 131,2 mil veículos por dia.

O relatório do IMT faz um cálculo do tráfego médio diário mensal, tendo a Lusa calculado a média dos valores apurados para cada um dos 12 meses, obtendo uma média anual.

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o Porto tinha 231.800 habitantes nos Censos 2021, o que significa que um número de pessoas superior a mais de metade da população da cidade (56,1%) atravessa a VCI diariamente.

Evidenciando a maior concentração de veículos no Porto, os números do IMT, calculados numa dimensão anual, revelam que se forem incluídos os troços da VCI em Gaia, menos congestionados (especialmente na A44), a média desce para os 110,8 mil veículos por dia em 2023, o que, ainda assim, significou um aumento face aos 106,9 mil registados em 2022, mas ainda abaixo de 2019 (115,8 mil).

Também as vias adjacentes à VCI registaram elevados níveis de trânsito, tendo a Avenida AEP registado 132,8 mil veículos por dia e o troço da A3 entre a VCI e o nó de Águas Santas/A4 121,7 mil em 2023.

Os 526 acidentes registados nos troços da VCI no Porto causaram, em 2023, dois mortos e um ferido grave, um "problema de sinistralidade" que o presidente da Câmara, Rui Moreira, considerou, dia 12 de março, ser "muito preocupante".

"Sempre que há um acidente na cidade do Porto, a cidade do Porto para. É urgente que, seja competência metropolitana, seja ela qual for, possa interferir junto daquilo que é uma via que, neste momento, é uma causa enorme de problemas", referiu Rui Moreira, quando questionado se entidades autárquicas ou metropolitanas poderiam ter competências diretas para gerir vias de cariz local como a VCI.

O autarca também já admitiu, no ano passado, que trânsito na VCI coloca em risco a meta municipal de atingir a neutralidade carbónica em 2030, lamentando ter pouco poder direto sobre o tema.

Na sexta-feira, o secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas, Frederico Francisco, considerou que o problema do trânsito na VCI só se resolve com recurso ao transporte público e desincentivo ao automóvel.

Questionado após a assinatura do protocolo de reabertura da Linha de Leixões, circular ferroviária do Porto que poderá ser uma das alternativas à VCI, Frederico Francisco considerou que "todo e qualquer investimento nos transportes públicos na Área Metropolitana do Porto, em particular no acesso à cidade do Porto, ou às imediações da cidade do Porto, contribui e ajuda a descongestionar a VCI".

Em fevereiro, o atual Governo remeteu para um próximo executivo as decisões sobre a reordenação do trânsito na VCI e vias adjacentes que a alimentam.

Um grupo de trabalho criado em 2020 propôs uma redução tarifária no último pórtico sul da A28, um novo pórtico na A28, a sul da interseção com a A41, a eliminação dos dois pórticos existentes no tramo poente da A4 e a introdução de um novo pórtico entre a A4 (nascente) e a A3 (tramo sul).

Na Assembleia Municipal, o movimento que apoia Rui Moreira fez aprovar uma moção em que instava o Governo a isentar, por um período experimental de um ano, as portagens na A41-CREP, bem como a taxar "todo o tráfego de atravessamento", exceto "aquele que tem como origem e destino a cidade do Porto".