Em declarações à Lusa, o associado e bombeiro da corporação de Voluntários Vila do Conde José Eduardo Pedrosa afirmou hoje que o pedido de passagem ao quadro de reserva de mais de meia centena de bombeiros, que assim “deixam de prestar socorro”, “aconteceu na sexta-feira”.
A decisão “tem a ver com o clima de crispação que tem existido” na corporação e que “vem desde que os atuais órgãos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde tomaram posse, em abril do ano passado”, disse.
Segundo José Eduardo Pedrosa, com este pedido, “restam agora pouco mais de 40 profissionais e alguns voluntários” a prestar socorro à população, um número que “não é suficiente”.
A Lusa tentou sem sucesso contactar por telefone a presidente dos Voluntários de Vila do Conde. Enviou também um ‘email’ a pedir esclarecimentos, mas não obteve ainda resposta.
Contactado pela Lusa, o comandante da corporação, Joaquim Moreira, apenas afirmou estar “preocupado com a situação” e que o número de bombeiros voluntários que já fez o pedido “ultrapassa já os 60”.
Na sua opinião, esta situação, que “tem de ser avaliada com a direção da corporação, põe em causa o socorro, obviamente”.
O presidente da Associação Portuguesa dos Bombeiros Voluntários, Rui Moreira da Silva, afirmou em declarações à Lusa ter já conhecimento desta situação, mas desvalorizou-a, considerando que “estas situações de cisão acontecem com alguma frequência nos corpos” e que “não há riscos para a população”.
“Fico desgostoso com quezílias internas, mas são naturais”, disse, acrescentando ser possível que “tudo volte à normalidade”.
O responsável explicou também que um pedido de passagem ao quadro de reserva “por crispação com alguém é motivo para um procedimento disciplinar”.
“Apresentar como motivo um litígio com alguém é grave e dará certamente um procedimento disciplinar”, disse, justificando que “a lei só prevê esse pedido à reserva em caso de emigração, doença ou de alguém que não cumpra os serviços mínimos”.
Rui Silva disse ainda que a população de Vila do Conde não tem de ficar preocupada com a situação e que o “socorro fica sempre garantido”, uma vez que o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), que é quem tem competências de atribuir serviços de emergência pré-hospitalar, pode chamar meios dos corpos dos concelhos vizinhos.
Numa nota enviada à Lusa dando conta do pedido de passagem ao quadro de reserva, José Eduardo Pedrosa escreve que a direção, presidida por Emília Furtado, “tem exercido pressões diversas sobre o comandante e sobre os bombeiros, tem desvalorizado a sua competência e capacidade de comando e tem contribuído para o comprometimento do socorro em Vila do Conde com estas atitudes e com o desinvestimento em profissionais, viaturas e equipamentos”.
O bombeiro refere ainda que “o clima de hostilidade e instabilidade” vivido no quartel “promovido pela atual direção” contribui para “a divisão” da corporação.
Acusa ainda a direção de violar sucessivamente os estatutos da associação ao, por exemplo, não responder às solicitações dos associados e ao não pedir um parecer ao conselho fiscal em sede de apreciação e votação do orçamento para 2018, “que foi chumbado”.
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