O anúncio da cimeira, marcada para quinta e sexta-feira, foi feito pela Casa Branca, antecipando que os Estados Unidos “anunciarão um ambicioso objetivo de redução emissões até 2030 como a sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada, ao abrigo do Acordo de Paris”.
As contribuições nacionalmente determinadas conhecidas pela siga em inglês NDC (nationally determined contributions) são elementos fundamentais do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) assinado em 2015. São os valores de redução de GEE que cada país anuncia, como contribuição na luta contra o aquecimento global e as alterações climáticas.
No ano passado todos os países deviam ter atualizado essas NDC e apresentá-las na cimeira do clima da Glasgow, mas a cimeira foi adiada para novembro deste ano devido à pandemia de covid-19.
A União Europeia atualizou as suas NDC em dezembro passado, comprometendo-se em reduzir pelo menos 55% das emissões de GEE até 2030, em comparação com os valores de 1990. Mas vários países ainda não as atualizaram. A última promessa dos Estados Unidos, segundo país com mais emissões a seguir à China, tinha sido de uma redução até 2025 entre 26% e 28% face a 2005.
Os Estados Unidos afastaram-se do Acordo de Paris e das preocupações em relação ao aquecimento global durante a administração de Donald Trump mas o atual Presidente, Joe Biden, anunciou o regresso ao Acordo de Paris no primeiro dia no cargo, em janeiro passado, e nesse mesmo mês divulgou a intenção de convocar uma cimeira de líderes para incrementar os esforços na luta contra a crise climática.
A cimeira começa na quinta-feira, Dia da Terra, e Joe Biden convidou 40 países para participarem, entre eles a China e a Rússia. O Presidente Russo, Vladimir Putin, já anunciou que iria participar.
“A Cimeira de Líderes sobre o Clima sublinhará a urgência - e os benefícios económicos - de uma ação climática mais forte. Será um marco fundamental no caminho para a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) em novembro próximo em Glasgow”, diz a administração norte-americana.
Lembrando os avisos dos cientistas de que é preciso limitar o aquecimento global a 1,5 graus celsius acima da média da época pré-industrial, a presidência de Joe Biden explica que esse é também um dos objetivos da cimeira, bem como o de exemplificar como uma maior ambição climática vai criar bons empregos, contribuir para o avanço de tecnologias inovadoras e ajudar países vulneráveis a adaptarem-se aos impactos das alterações climáticas.
Joe Biden convidou para a cimeira os líderes dos 17 países responsáveis por cerca de 80% das emissões globais de gases com efeito de estufa e do PIB mundial, países que demonstraram uma “forte liderança climática” e países especialmente vulneráveis às alterações climáticas.
Para o encontro virtual, que será transmitido em direto, Joe Biden quer levar temas como o aumento dos esforços das principais economias mundiais para reduzir emissões na presente década, mobilizar financiamento para impulsionar a transição e ajudar países mais vulneráveis, debater os benefícios económicos dessa transição, e estimular as tecnologias de transformação e adaptação.
Joe Biden quer ainda dar visibilidade a entidades empenhadas na recuperação verde, e discutir o reforço da capacidade de proteção face aos impactos das alterações climáticas e o papel das soluções baseadas na natureza para alcançar as emissões neutras de gases até 2050.
E quer dar visibilidade aos Estados Unidos na luta contra as alterações climáticas, um tema em que a União Europeia tem sido a principal protagonista nos últimos anos.
Até agora ainda não foi divulgada a “ambição” norte-americana nesta matéria, mas há uma semana mais de 300 empresas e investidores, incluindo nomes como a Apple, Google ou Coca-Cola, apelaram ao Presidente dos Estados Unidos para que apresente um objetivo ambicioso de redução de emissões e falaram num corte de pelo menos 50% em relação a 2005. Até 2030. Esse valor seria quase do dobro do anterior objetivo.
Joe Biden nomeou John Kerry, antigo secretário de Estado, como enviado especial para o clima, e o político tem estado a viajar pelo mundo, a mostrar o novo empenho dos Estados Unidos em relação ao clima, tendo estado na China recentemente.
Associação Zero com poucas esperanças na cimeira dos EUA
A iniciativa, considera a Zero em comunicado, é “extremamente importante”, até para mostrar que os Estados Unidos estão de volta na ação climática (um tema que o anterior Presidente, Donald Trump, não priorizou).
Mas a organização lembra também o último relatório das Nações Unidas, de fevereiro passado, que diz que as contribuições nacionalmente determinadas (NDC, na sigla em inglês, que são as promessas de cada país de corte nas emissões de gases com efeito de estufa), estão longe dos objetivos previstos no Acordo de Paris sobre o clima, de limitar o aquecimento global a 1,5 ° Celsius em relação à época pré-industrial.
“Para não aumentarmos mais de 1,5 graus Celsius em relação à era pré-industrial, precisamos de reduzir as emissões mundiais em 45% entre 2010 e 2030”, mas com as novas NDC “o decréscimo é de apenas 0,5% em relação aos 45% necessários”, diz a Zero, notando que esta contabilização envolve apenas os países que já revelaram os seus compromissos, faltando “países chave”.
Um dos países que ainda não apresentou os seus compromissos nas Nações Unidas é precisamente os Estados Unidos, e a China (são os dois países que mais emitem gases com efeito de estufa) apenas apresentou uma intenção e não um compromisso formal.
É de lamentar que vários países relevantes como a Austrália, Brasil, Japão, Federação Russa, México, Nova Zelândia, Coreia do Sul ou Suíça “já submeteram as suas novas metas e não aumentam o seu grau de ambição” nesta nova submissão no quadro das negociações que deverão ser finalizadas na cimeira do clima de Glasgow em novembro deste ano, diz a associação ambientalista.
A Zero lembra que no Acordo de Paris os Estados Unidos se comprometeram em reduzir as emissões entre 26 e 28% até 2025 (em relação a 2005).
“Análises recentes sugerem que um corte de 50% nas emissões entre 2005 e 2030 não só é viável, mas também seria um catalisador para a criação de empregos e de crescimento económico, alinhando-se melhor com os esforços de obter emissões globais líquidas zero até 2050, meta de longo prazo que o Presidente Biden também estabeleceu”, afirma a Zero no comunicado.
A associação diz que espera da Europa, nesta cimeira, mais esforços e compromissos específicos, uma redução de emissões além de 55% (o compromisso da União Europeia para 2030) e mais esforços para proteger a biodiversidade e aumentar as remoções de carbono, a par de esforços no apoio à adaptação às alterações climáticas de países mais pobres e frágeis e não financiar os combustíveis fósseis no processo de recuperação da pandemia de covid-19.
Esta semana, num relatório, a Organização Meteorológica Mundial indicava que os indicadores e os impactos das alterações climáticas agravaram-se em 2020, um dos três anos mais quentes de sempre, e a pandemia de covid-19 abrandou a economia, mas não as concentrações de gases.
Nele o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o secretário-geral da organização, Petteri Taalas, pediram ação e alertaram para as consequências, visíveis, das alterações climáticas.
O ano que passou foi marcado, além da pandemia de covid-19, pelo aumento da temperatura da terra e dos oceanos, pela subida do nível do mar, pela continuação do derretimento do gelo permanente e recuo dos glaciares e pelas condições meteorológicas extremas. Tudo isso teve impacto no desenvolvimento económico, nas migrações (internas e externas), na segurança alimentar, e nos ecossistemas terrestres e marinhos.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o relatório agora apresentado mostra que não há tempo a perder, que o clima está a mudar e que os impactos já são demasiado pesados para as pessoas e para o planeta.
O Dia da Terra, que tem precisamente como objetivo consciencializar as pessoas para os problemas ambientais do planeta, foi criado pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, em 22 de abril de 1970. Teve a adesão na altura de milhares de estabelecimentos de ensino dos Estados Unidos.
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