Frente à casa, Domingos do Poço disse à Lusa que, apesar de todas as tentativas para reverter o processo e de já não haver "nada a fazer", há uma providência cautelar "que ainda não caiu" e que aguarda por uma decisão da juíza que, se lhe for favorável, pode significar que venha a ser indemnizado.
A habitação da Rua do Cabo foi a primeira de um conjunto de 14 a ir abaixo naquele núcleo habitacional da ilha da Culatra, no concelho de Faro, pouco antes das 10:00, perante o olhar sereno, embora indignado, de moradores e amigos de proprietários.
"Das outras vezes [nas anteriores demolições], havia muito mais gente. Desta vez, ninguém veio apoiar. Estão aqui meia dúzia de pessoas, nem associações, nem coisa nenhuma. Onde estão agora?", questiona Fátima Costa, amiga de Domingos.
Para Fátima, que ali chegou a passar férias com a família, este processo demonstra que há "portugueses de primeira e de segunda", porque o maior risco é na parte costeira, do outro lado da ilha, e não no lado da Ria Formosa.
"Ali a ondulação é muito grande, aqui não há. Não se justifica este pretexto que eles estão a arranjar para demolir as casas. Aqui não há perigo nenhum", refere à Lusa.
Enquanto dá voltas na pequena passadeira que dá acesso à sua antiga casa, cercada por um perímetro de segurança, Domingos vai falando com algumas das pessoas que hoje se concentraram junto à zona onde estão a ser demolidas as primeiras casas.
A casa, situada a poucos metros do cais de embarque da ilha, tem ao lado outra que também está sinalizada para demolição, onde alguém escreveu o "Pai Nosso" nas paredes brancas.
Domingos sente-se injustiçado, mas diz que "eles é que mandam" e que "não sabe de nada", sugerindo que, se aquela é uma zona de risco, as demolições deviam estender-se a outros locais, como Vilamoura e Quarteira.
"Fico mais chateado porque a casa tem que ir abaixo, gastámos dinheiro, e segundo a Polis dizia, era a orla costeira. Mas a orla costeira não é aqui, é no oceano, e aqui não sei que mal é que as casas fazem", conclui.
Às 11:00, os técnicos que estão a realizar a operação de demolição passam para a segunda casa, na Rua do Sol, trabalhos que vão estender-se pelos próximos dias, até que as 14 habitações sejam demolidas.
Para garantir a segurança de todos os que estão envolvidos na operação e das pessoas que assistem aos trabalhos, está um dispositivo de 40 agentes da Polícia Marítima.
Além da salvaguarda das construções de primeira habitação - que são apenas duas, nos núcleos do Farol e dos Hangares - estão ainda fora do mapa das demolições as construções pertencentes a pessoas com atividade ligada à ria (pescadores, mariscadores ou viveiristas), quer estejam no ativo ou já na reforma.
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