A assinatura, que oficializa a decisão já anunciada, decorreu na residência privada de Trump em Mar-a-Largo, na Florida, e determina a imposição de tarifas de 10% à China, de 25% ao México e de 25% ao Canadá, exceto no petróleo canadiano, que terá tarifa de 10%.
A Agência France-Presse escreve que o decreto presidencial sobre a importação de produtos canadianos entra em vigor na terça-feira, 04 de fevereiro.
De acordo com a Casa Branca, a ordem de Donald Trump também inclui um mecanismo para aumentar as taxas aduaneiras em caso de retaliação destes países — os três principais parceiros comerciais dos Estados Unidos e que no total representam mais de 40% das importações do país.
Trump tinha vindo a ameaçar a imposição de tarifas para garantir uma maior cooperação dos países para impedir a imigração ilegal e o contrabando de produtos químicos usados para fazer fentanil, um poderoso opiáceo que está a causar estragos nos Estados Unidos.
O Presidente americano também tinha prometido usar tarifas para impulsionar a produção nacional e aumentar as receitas do Governo federal americano.
A resposta do Canadá e as palavras de Trudeau. "Isto terá consequências reais para vocês, o povo norte-americano"
Poucas horas depois do anúncio de Trump, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou que o país vai retaliar às taxas aduaneiras de 25% impostas pelos Estados Unidos e aplicar a mesma tarifas aos produtos norte-americanos.
As taxas canadianas sobre 30 mil milhões de dólares (28,9 mil milhões de euros) de frutas e bebidas alcoólicas norte-americanas entrarão em vigor também na terça-feira, em paralelo com as tarifas anunciadas pelos EUA.
O Canadá irá gradualmente “impor taxas alfandegárias de 25% sobre os produtos americanos, totalizando 155 mil milhões de dólares canadianos” [102 mil milhões de euros], anunciou.
Num discurso aos canadianos, o chefe do Governo do Canadá dirigiu-se também à população dos Estados Unidos.
“Isto terá consequências reais para vocês, o povo norte-americano", disse Trudeau, acrescentando que isso resultaria em preços mais elevados, nomeadamente no caso de bens essenciais.
O primeiro-ministro disse que muitos canadianos se estavam a sentir traídos pelo país vizinho e aliado de longa data, lembrando aos norte-americanos que as tropas canadianas lutaram ao seu lado no Afeganistão.
“As ações tomadas hoje [sábado] pela Casa Branca separaram-nos em vez de nos unirem”, disse Trudeau, alertando em francês que isso poderia trazer “tempos sombrios” para muitas pessoas.
A decisão dos Estados Unidos foi vista pelo Canadá como uma declaração de guerra comercial. Os analistas salientaram que, se as tarifas se mantiverem em vigor, o Canadá poderá entrar em recessão dentro de seis meses.
Na sua intervenção, Justin Trudeau revelou também que tinha falado com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e que o Canadá e o México estavam a trabalhar em conjunto para responder à decisão de Trump.
A retaliação do México. Claudia Sheinbaum também anuncia tarifas e aponta o dedo aos Estados Unidos na guerra à droga
A Presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou também ontem a resposta do país às medidas de Donald Trump, seguindo a mesma estratégia do Canadá e ordenando a imposição de taxas aduaneiras aos produtos vindos dos Estados Unidos.
Ficou a cargo do secretário da Economia, Marcelo Ebrard Casaubon, a gestão da resposta que inclua tarifas de retaliação e outras medidas em defesa dos interesses do México.
“Rejeitamos categoricamente a calúnia da Casa Branca de que o Governo mexicano tem alianças com organizações criminosas, bem como qualquer intenção de interferir no nosso território”, escreveu a chefe de Estado, numa publicação na rede social X.
Horas antes, a ordem executiva assinada por Donald Trump alegava, sem apresentar provas, que os cartéis de droga mexicanos formaram “uma aliança com o governo do México”.
“Se o Governo dos Estados Unidos e as suas agências quisessem abordar o consumo grave de fentanil no seu país, poderiam combater a venda de drogas nas ruas das suas principais cidades, o que não fazem, e o branqueamento de capitais que esta atividade ilegal gera e que tantos danos causou à sua população”, afirmou, na sua resposta, a presidente do México.
A Presidente do México acusou os fabricantes de armas dos Estados Unidos de venderem armas a “estes grupos criminosos” e sublinhou que o seu Governo apreendeu “40 toneladas de droga, incluindo 20 mil doses de fentanil” em quatro meses.
O México é o maior parceiro comercial dos Estados Unidos, absorvendo mais de 80% das exportações norte-americanas. Ambos os países são membros, juntamente com o Canadá, do Acordo de Livre Comércio da América do Norte.
“A China está fortemente insatisfeita e firmemente contra”
A China prometeu também retaliar contra as novas tarifas dos Estados Unidos sobre os produtos chineses, impostas pelo novo presidente americano Donald Trump, reafirmando que as guerras comerciais "não têm vencedores".
“A China está fortemente insatisfeita e firmemente contra” as tarifas, disse o Ministério do Comércio chinês, em comunicado, anunciando “medidas correspondentes para proteger resolutamente os direitos e interesses” chineses.
O comércio entre os Estados Unidos e a China representou cerca de 500 mil milhões de euros nos primeiros 11 meses de 2024, mas o balanço é amplamente desfavorável aos Estados Unidos, com um défice de cerca de 260 mil milhões de euros, segundo dados de Washington.
“Não há vencedores numa guerra comercial ou tarifária”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, noutro comunicado.
Pequim anunciou que vai apresentar uma queixa contra Washington junto da Organização Mundial do Comércio (OMC) pelo que chamou de “imposição unilateral de taxas alfandegárias em grave violação das regras da OMC”.
Estes impostos “não só são inúteis para resolver os problemas dos Estados Unidos, como também prejudicam a cooperação económica e comercial normal”, denunciou o Ministério do Comércio.
O decreto assinado por Trump acusa a China de passividade no tráfico de droga para os Estados Unidos, mas vai mais longe e disse que o país asiático “apoia e expande ativamente o negócio da droga “para envenenar” os norte-americanos.
“A China espera que os Estados Unidos analisem e lidem com problemas como o fentanil de forma objetiva e racional, em vez de ameaçar constantemente outros países com tarifas”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
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