A primeira-ministra britânica, Liz Truss, anunciou hoje que apresentou a sua demissão ao Rei Carlos III, pondo fim a um governo que estava em funções há 45 dias.
Com isto, a agora ex-primeira-ministra torna-se o chefe de governo a ter permanecido por menos tempo em Downing Street na história moderna britânica.
Sucedendo a Boris Johnson, o mandato da conservadora foi extremamente turbulento, tendo lidado com a morte da Rainha Isabel II e com a apresentação e queda do seu grande plano de relançamento da economia, ao mesmo tempo que perdeu dois dos seus ministros-chave e a confiança da maior parte dos deputados.
O que disse Liz Truss sobre a demissão?
“Reconheço que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador. Por conseguinte, falei com Sua Majestade o Rei para o notificar de que me demito como líder do Partido Conservador”, afirmou.
Quando vai haver sucessor?
Numa declaração à porta da residência oficial de Downing Street, em Londres, Truss adiantou que um sucessor será encontrado até ao fim da próxima semana, através de uma votação dentro do Partido Conservador.
Os britânicos queriam a demissão de Truss?
No dia 18 de outubro foi divulgado um estudo que indicava que apenas 10% dos britânicos tinham uma opinião favorável de Liz Truss, após a conservadora ter pedido “desculpa” pela crise política e económica das últimas semanas.
Segundo a sondagem, 80% dos inquiridos tinham uma opinião “desfavorável” sobre Truss, e 62% "muito desfavorável”. Entre os eleitores conservadores, só 20% simpatizavam com líder de seu partido, enquanto 71% tinham uma opinião negativa.
Questionados também pela YouGov nos últimos dois dias, 55% dos militantes ’tory’ disseram que Truss devia demitir-se, enquanto 38% queriam que ela ficasse.
De recordar que estes resultados surgiram depois de o Governo ter revertido quase todos os cortes de impostos anunciados há três semanas e Liz Truss ter demitido Kwasi Kwarteng de ministro das Finanças na sexta-feira, substituindo-o por Jeremy Hunt.
Liz Truss já tinha admitido demitir-se?
Numa entrevista à BBC na segunda-feira à noite, Truss disse que pretendia ficar e avisou os colegas de que se avizinhavam "tempos muito difíceis”.
"Não podemos simplesmente dar-nos ao luxo de perder o nosso tempo a falar sobre o Partido Conservador, em vez de [falar] sobre o que precisamos de cumprir”, argumentou.
Além disso, a então primeira-ministra britânica pediu desculpas pelos "erros" que cometeu no início do mandato, mas mostrou-se disposta a conduzir o partido nas próximas eleições legislativas.
"Quero aceitar a responsabilidade e pedir desculpas pelos erros que cometi", disse, admitindo que se foi “demasiado longe e demasiado rápido” nos cortes de impostos que prometeu juntamente com o pacote de apoio a pessoas e empresas relativo ao aumento dos custos da energia.
Quem pode vir a suceder a Liz Truss?
Já são vários os nomes apontados quanto a possíveis sucessores de Truss:
- Rishi Sunak, o seu rival nas últimas eleições do partido;
- Penny Mordaut, presidente do Conselho e Líder da Câmara dos Comuns;
- Ben Wallace, secretário da Defesa;
- Boris Johnson, ex-primeiro-ministro britânico.
Por sua vez, o atual Ministro das Finanças, Jeremy Hunt, já disse que não vai concorrer à liderança do Reino Unido.
É mesmo possível o regresso de Boris Johnson?
Apesar de se ter demitido há apenas alguns meses, depois de uma série de escândalos, há quem considere que Johnson pode trazer estabilidade ao país.
Por exemplo, o antigo secretário particular parlamentar de Boris Johnson, James Duddridge, escreveu no Twitter que é hora do seu chefe regressar.
Além disso, um deputado que fez campanha pelo ex-primeiro-ministro, em 2019, referiu à CNN o que poderia justificar uma nova candidatura. "Os socialistas vão destruir a nossa economia e, se não compreenderem isso, então temo verdadeiramente pelo nosso futuro", apontou.
Nas horas que se seguiram ao discurso de demissão de Truss, os aliados mais próximos de Johnson disseram estar conscientes de que este estava a ser ativamente pressionado por representar a melhor hipótese de estabilidade do partido a médio prazo.
No seu discurso final como primeiro-ministro, no exterior de Downing Street, Johnson fez uma das suas alusões à história antiga.
"Como Cincinnatus (estadista romano), vou voltar para o meu arado e não oferecerei a este governo nada além do mais fervoroso apoio", disse Boris Johnson, que não descartou um regresso à vida política.
Resta agora saber quais as próximas semelhanças na história. Afinal, Cincinnatus foi chamado de volta ao seu arado, regressando a Roma para um segundo mandato, dessa vez como ditador.
Comentários