No dia oito de maio, o jornalista Filipe Caetano da TVI/CNN Portugal, que está em reportagem na Ucrânia, publicou no Twitter uma fotografia de um kit de ração de combate russo com um elemento bem português: uma lata de atum da marca 'Bom Petisco'.

Contactada pelo SAPO24, a Cofaco, empresa que detém a marca de conservas, explicou que "não exporta para a Rússia, não se encontra habilitada a exportar para a Rússia, nem possui conhecimento de que qualquer cliente seu, português ou estrangeiro, o faça (com artigo adquirido à Cofaco)."

Assumindo que não há uma forma direta e lógica de "explicar a presença de artigo Bom Petisco no exército russo", a empresa contactou o jornalista que publicou a fotografia nas redes sociais para identificar o número de lote da lata em causa e assim seguir-lhe o rasto.

"Conseguimos efectuar o rastreio da lata desde a origem até à saída da empresa, circunstância que adquire particular relevância atento o facto de em março último termos feito um donativo de 24.000 latas de atum Bom Petisco Azeite, com destino à Ucrânia", revela a empresa.

A doação foi efetuada por intermédio da Associação dos Ucranianos em Portugal. "A carga teve por destino a cidade ucraniana de Lviv, sendo que a Cofaco recebeu a confirmação da chegada da carga ao destino. O que de errado se passou – e algo de errado certamente se passou – ocorreu já em solo ucraniano, e por circunstâncias que são do nosso desconhecimento", afirmam.

Contactado pelo SAPO24, Pavlo Sadokha, presidente da associação, confirmou a sequência de acontecimentos, explicando que as "24 mil latas de atum de apoio humanitário com destino à Ucrânia" foram entregues num centro em Ternopil, cidade a cerca de 130 quilómetros de Lviv, tendo sido depois distribuídas.

Sadokha revelou que já entrou em contacto com o centro que recebeu a doação para tentar perceber o que aconteceu, no entanto, já falou com a fundação em Kiev, onde a lata foi encontrada pelo jornalista português, e, pelas informações reveladas há dois grandes "mistérios" por resolver.

O pacote de ração de combate do exército russo "foi entregue pelos soldados ucranianos que recuperaram a cidade de Bucha, intacto". É aqui que surge a primeira grande incógnita: de acordo com o selo, este kit foi selado a 6 de abril de 2020.

Se tal informação já torna difícil de explicar a presença da lata de marca portuguesa no pacote, o facto de a lista que discrimina cada item no mesmo conter todos os produtos que lá estavam dentro, menos a lata de conserva, adensa o mistério.

A associação vai assim continuar a encetar contactos no terreno para perceber com mais detalhe o que poderá ter sucedido.

Os pacotes de ração do exército, chamados MRE (Meals Ready to Eat), são normalmentos constituídos por bens não perecíveis e de consumo fácil, como enlatados ou bolachas. No entanto, desde o início da guerra, em fevereiro, que tem sido reportado que os mantimentos disponibilizados ao exército russo têm sido insuficientes - e até que houve casos de soldados que foram enviados para a Ucrânia com MRE fora do prazo.

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