“Não creio que este seja um congresso de realinhamento político substantivo e substancial da parte do PS”, disse à Lusa o politólogo Carlos Jalali, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro.

Carlos Jalali salientou que o PS “encontrou uma fórmula governativa inesperada, mas surpreendentemente estável até agora, pós-eleições legislativas de 2015, e o cenário que se antecipa para as próximas legislativas é um cenário em que António Costa [secretário-geral do PS e primeiro-ministro] tem procurado manter as portas abertas para entendimentos à esquerda, à semelhança daquilo que aconteceu em 2015, mas também sempre com o PS consciente de que esses entendimentos vão depender fundamentalmente da aritmética parlamentar”.

E, consoante essa aritmética, “os entendimentos do PS poderão ser desnecessários, se o PS conseguir uma maioria absoluta, ou difíceis de reeditar, num cenário de um PS minoritário, mas que surge em vantagem como lista mais votada nas eleições”, e, neste caso, as negociações com os partidos à sua esquerda “serão substancialmente mais difíceis”, apontou Carlos Jalali.

Para o politólogo, tendo em conta este contexto e declarações já feitas, “não é expectável que este seja um congresso de realinhamento político”, mas “mais de reflexão sobre as implicações no próximo cenário político, de alinhar estratégias políticas e discurso e opções para o embate político que se adivinha”, com eleições europeias e legislativas.

Quanto a cenários futuros como o da atual ‘gerigonça’, Carlos Jalali observou que antes das eleições legislativas há o Orçamento do Estado para 2019, “o último momento em que o entendimento à esquerda vai ser posto à prova de forma mais substantiva”.

Para Carlos Jalali, “os sinais do lado do PS são claros” e o partido “tem interesse em reeditar este tipo de entendimentos à esquerda, mas a questão que se coloca do lado dos seus atuais parceiros parlamentares”, a natureza desses entendimentos, “derivou, em larga medida, das circunstâncias muito específicas de 2015”. “Se essas circunstâncias não se repetirem será que há novo entendimento?”, questionou.

Já o politólogo António Costa Pinto não antevê “mudanças espetaculares” no congresso.

“É de crer, no entanto, que o PS reforce o seu programa político de continuidade para as eleições de 2019, aprove também a estratégia de, como é natural, concorrer sozinho em 2019”, adiantou António Costa Pinto, assinalando que a atual experiência governativa “não dará direito a estratégias como caracterizaram a direita, ou seja, de listas conjuntas ou de acordos pré-eleitorais para o parlamento”.

O investigador e politólogo do Instituto Ciências Sociais da Universidade Lisboa referiu ainda que “o PS fará não só um balanço positivo destes acordos parlamentares, mas obviamente apresenta-se ao país como partido político de governo autónomo para 2019”.

António Costa Pinto salientou que “o PS tem a consciência de que uma maioria absoluta é uma excecionalidade na política portuguesa”, acreditando que o partido, “à medida que se vai aproximando das eleições, vai evitar essa questão”.

“No entanto, existe aqui uma realidade nova, essa realidade nova já aconteceu à direita e agora vai pela primeira vez acontecer à esquerda, ou seja, o que estará sobretudo em causa será a esquerda ter uma maioria parlamentar. Se tiver essa maioria parlamentar, o PS poderá sempre fazer um acordo com um dos partidos à esquerda do seu leque político”, adiantou.

O politólogo acrescentou que o PS chega ao congresso “com uma intenção eleitoral bastante significativa e com uma experiência de governação que foi positiva”, pelo que “é pouco provável que existam grandes clivagens”, mas é “provável também que o partido reforce que se vai apresentar sozinho nas eleições em 2019”.