A divisão quase ao meio do partido nas diretas de 27 de novembro - Rui Rio derrotou Paulo Rangel por 52,4% dos votos - e a exclusão de muitos apoiantes do eurodeputado, incluindo líderes de distritais, nas listas de candidatos a deputados ainda poderão ter eco em intervenções pontuais no Congresso de Santa Maria da Feira (Aveiro).
No entanto, os discursos das principais figuras do PSD, mesmo as críticas da estratégia de Rui Rio, não deverão pôr a tónica na divisão, mas na necessidade de unidade, pelo menos até às legislativas.
“É a hora de Rio e dos seus apoiantes” ou “esta não é a hora da controvérsia” são frases repetidas por críticos de Rio sobre o tom esperado para o Congresso.
Tal como é tradição, deverão multiplicar-se as listas ao Conselho Nacional - no último Congresso foram dez - entre a lista oficial, outras afetas às sensibilidades que têm saído derrotadas em diretas e até encabeçadas por apoiantes de Rui Rio.
O adversário mais recente de Rio, Paulo Rangel, fará uma intervenção, mas “não vai contribuir para a criação de listas alternativas” e ele próprio não deverá integrar qualquer lista ao Conselho Nacional, disse à Lusa fonte próxima do eurodeputado.
Luís Montenegro, que se bateu com Rio nas diretas de 2020, também irá falar aos congressistas, numa intervenção que apoiantes próximos antecipam como de “contributo para a campanha eleitoral” que se avizinha, não deixando de expressar as suas opiniões sobre o futuro.
O ex-líder parlamentar do PSD apoiará uma lista ao Conselho Nacional “abrangente”, “não de fação” e de “continuidade” com a que foi liderada há dois anos pelo ex-autarca de Famalicão Paulo Cunha, mas ainda não foi anunciado quem a encabeçará.
Também o ex-candidato à liderança em 2020 Miguel Pinto Luz falará no Congresso e está envolvido na organização de uma outra lista ao Conselho Nacional, não sendo certo que seja o vice-presidente da Câmara de Cascais a liderá-la.
A lista oficial da direção a este órgão - considerado o parlamento do partido - terá de ter um novo primeiro nome, já que foi Paulo Rangel a encabeçá-la em 2018 e 2020.
Também a habitual lista protagonizada por Joaquim Biancard Cruz e Duarte Marques está a ser preparada, faltando confirmar se será o ainda deputado e antigo líder da JSD a liderá-la.
Nas escolhas de Rui Rio para os órgãos nacionais, que serão eleitos no domingo de manhã, a tónica deverá ser a da continuidade, até pela proximidade das eleições e a incerteza de qual será o papel do partido depois de 30 de janeiro, se no Governo, se na oposição.
Na Comissão Permanente e Comissão Política Nacional (CPN), Rio já admitiu que poderá fazer apenas “alguma” renovação nos órgãos onde se sentam os seus mais próximos.
Um dos atuais seis vice-presidentes, Nuno Morais Sarmento, anunciou antes das diretas que não queria manter-se na direção (e não declarou apoio a nenhum dos candidatos).
Contactado pela Lusa, Morais Sarmento disse que irá ao Congresso e prevê fazer uma intervenção, e reiterou a indisponibilidade para integrar a CPN, mas sem excluir uma eventual participação em outros órgãos.
O nome de Paulo Mota Pinto é referido por alguns dirigentes como uma possibilidade para preencher essa vice-presidência, mas tal implicaria encontrar um novo presidente da Mesa do Congresso, cargo que ocupa desde que Rio foi eleito a primeira vez, em 2018.
Ao Conselho de Jurisdição Nacional, o ‘tribunal’ do partido, já foi apresentada uma lista encabeçada por Paulo Colaço, que enquanto presidente deste órgão teve vários conflitos com a atual direção, aguardando-se quem irá Rui Rio propor para este órgão, também eleito por método de Hondt.
A Lusa contactou os antigos presidentes do PSD mais recentes, e nenhum irá ao Congresso: Pedro Passos Coelho não vai a Santa Maria da Feira, tal como Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, e Manuela Ferreira Leite confirmou que, à semelhança de anteriores reuniões, também não tenciona ir à reunião magna deste fim de semana.
O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, integra a lista de participantes provisória, mas à Lusa ainda não confirmou a sua presença em Santa Maria da Feira, depois de o Congresso ter saído da localização inicial na capital - onde como autarca teria ‘honras’ de discursar na sessão de abertura - por razões “sanitárias e financeiras” invocadas pela direção.
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