“Vivemos numa época cínica, na qual as pessoas se sentem sem poder para mudar o mundo à sua volta. A xenofobia, o nacionalismo e as políticas populistas estão a crescer, enquanto durante anos estiveram dormentes. A confiança nas instituições está a degradar-se, frequentemente em resultado de uma intenção deliberada daqueles que procuram ganhos a curto prazo”, afirmou hoje Gabriella Battaini-Dragoni, na cerimónia de entrega do Prémio Norte-Sul 2017 do Conselho da Europa, na Assembleia da República, em Lisboa.

O prémio distinguiu este ano os secretários-gerais da Cruz Vermelha da Finlândia, Kristiina Kumpula, e do Quénia, Abbas Gullet.

A responsável do Conselho da Europa defendeu que, apesar deste cenário, “a confiança na Cruz Vermelha e Crescente Vermelho mantém-se firme”, e permite a esta organização internacional “trabalhar com a sociedade civil e com governos a todo o nível e em todos os continentes para coordenar ações eficazes e sustentáveis para o benefício dos que estão a precisar de ajuda, independentemente do género, raça ou religião”.

Por garantirem uma “ética humanitária” e um “diálogo intercultural” através de uma “instituição de confiança e eficaz”, os distinguidos este ano pelo Conselho da Europa “asseguram que a confiança pode triunfar sobre o cinismo”.

Battaini-Dragoni aproveitou para deixar um “agradecimento especial” a Portugal pelo “apoio contínuo que assegura tanta visibilidade ao Prémio Norte-Sul, ao Centro Norte-Sul e (…) ao Conselho da Europa como um todo”.

O Centro Norte-Sul, com 21 Estados-membros, é um organismo do Conselho da Europa com sede em Lisboa.

“É importante que todos nós façamos a nossa parte em sinalizar ao mundo que as divisões podem ser superadas, que o entendimento pode ser alcançado e que juntos podemos melhorar o mundo”, destacou.

O presidente do comité executivo do Centro Norte-Sul, Javier Gil Catalina, comentou que “a ameaça de nacionalismo, a par de populismo e xenofobia, está novamente na ordem do dia na Europa”, com “muitos europeus” a serem “presas fáceis de explicações simplistas e soluções demagógicas”.

Os dois responsáveis da Cruz Vermelha hoje distinguidos “dedicam as suas vidas à promoção do trabalho humanitário e da solidariedade humana” e são “um farol no meio da crise de valores atual”, considerou o responsável do Centro Norte-Sul.

Em representação do presidente da Assembleia da República – que se encontra a recuperar de uma intervenção cirúrgica ao pulmão -, o vice-presidente do parlamento português Jorge Lacão salientou que as desigualdades persistem entre os hemisférios norte e sul, “traduzidas em crises humanitárias, migratórias e ambientais”.

O também deputado socialista defendeu uma atuação preventiva contra as “lógicas nacionalistas e protecionistas” e, citando o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, “o foco na paz e na segurança”.

Sobre os premiados, Lacão elogiou a capacidade de ambos de “enfrentar as causas das migrações na sua origem” e alertou que “virar a cara para o lado não pode ser a solução” para este problema.

Ana Catarina Mendes, presidente da delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, destacou a importância de este prémio ser entregue em Lisboa, onde se localiza o Centro Norte Sul do Conselho da Europa.

A deputada socialista, que discursou em representação do Presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, salientou que os premiados deste ano personificam os valores que estiveram na génese desta distinção.

“Contrapor à crescente globalização económica do mundo a globalização da solidariedade”, resumiu, considerando que o Prémio Norte-Sul permite aumentar a capacidade global de “sonhar com um mundo mais coeso, mais justo, mais solidário”.