“O meu otimismo levou-me a trazer roupa para quatro dias e, portanto, espero sair daqui com duas decisões positivas e que não me faltem camisas”, disse o chefe de Governo, falando à entrada da cimeira europeia, em Bruxelas.

“Espero que este Conselho Europeu permita, em primeiro lugar, ter uma posição política forte, que não frustre aquilo que foram as expectativas que a União Europeia [UE] foi criando, ao longo deste último ano, sobre as perspetivas europeias da Ucrânia”, vincou António Costa.

O primeiro-ministro demissionário considerou que “vai ser um Conselho seguramente longo, difícil, com muitas questões contraditórias em cima da mesa”, nomeadamente a oposição húngara ao avanço nas negociações com Kiev para aderir ao bloco político-económico europeu.

“Recordar-se-ão que, desde o princípio, eu chamei a atenção que não devíamos criar um excesso de expectativas que resultassem numa frustração. As expectativas foram criadas, portanto não podemos consentir qualquer frustração”, afirmou.

A Ucrânia, que está há praticamente dois anos a tentar repelir uma invasão da Federação Russa, precisa de previsibilidade, não só no caminho europeu, mas também no apoio económico-financeiro e militar para que não caiam por terra as conquistas feitas até hoje no campo de batalha, defendeu António Costa.

Os líderes europeus iniciam hoje em Bruxelas uma cimeira para discutir o apoio financeiro de 50 mil milhões de euros à Ucrânia e a abertura de negociações formais sobre a adesão ucraniana, encontro marcado pela ameaça de veto húngaro.

Apesar de poderem ser equacionados alguns ‘planos B’ relativamente aos assuntos em cima da mesa – como o reforço do programa macrofinanceiro em vez da reserva financeira ou o adiamento para início do ano da decisão sobre a abertura de negociações formais sobre a adesão da Ucrânia à UE, dado o prazo de março estipulado pela Comissão Europeia –, várias fontes europeias ouvidas pela agência Lusa foram unânimes em insistir que este “Conselho Europeu começa com um espírito de avançar com o ‘plano A’”.

Encarada como decisiva, esta reunião dos chefes de Estado e de Governo dos 27 da UE vai decorrer pelo menos até sexta-feira, podendo estender-se, devido às posições assumidas pela Hungria e após vários meses de contestação de Budapeste à suspensão de fundos europeus pela violação do Estado de direito, que deram origem a dois bloqueios em recentes cimeiras europeias em conclusões relativas às migrações.

Nas últimas semanas, as ameaças da Hungria subiram de tom em cartas enviadas pelo primeiro-ministro, Viktor Orbán, ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, exigindo uma “discussão estratégica” sobre a Ucrânia, pedido que tem por base o ceticismo sobre as minorias húngaras em território ucraniano e a corrupção existente no país, mas sobretudo uma questão não relacionada com Kiev, que se prende precisamente com as verbas comunitárias que foram suspensas a Budapeste.

Entretanto, na quarta-feira, a Comissão Europeia anunciou ter desbloqueado uma verba de 10,2 mil milhões de euros que tinha vedado à Hungria por desrespeito do Estado de direito, após melhorias no sistema judicial, embora mantendo 21 mil milhões suspensos.