Na localidade de São Miguel, no concelho alentejano do distrito de Beja, Maria Mortágua ouviu os relatos de um grupo de imigrantes provenientes de países asiáticos, como a índia ou o Nepal, e no final disse aos jornalistas que é preciso fazer mais para dar condições de trabalho a estas pessoas, que sustentam a economia portuguesa na agricultura, mas também no turismo.
“A nossa motivação de vir aqui é muito simples, nós somos uma geração, a minha geração, é filha de emigrantes portugueses, em muitos casos pessoas que foram para França, que trabalharam em péssimas condições, que viveram em contentores, que eram explorados e que eram discriminados porque eram portugueses em França”, disse a dirigente partidária.
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) defendeu, por isso, que Portugal deve dar às pessoas que procuram o país, “e que em larga medida mantém a economia, condições muito melhores do que aquelas que os nossos pais, os nossos avós, os nossos tios tiveram quando emigraram para França”.
“E as histórias que temos destes imigrantes, que mantém esta agricultura intensiva no Alentejo e em muitos outros pontos do país, são histórias de enorme precariedade e exploração”, lamentou, exemplificando que há quem viva em “casas sobrelotadas, quando vivem em casas”, tenha “histórias de falta de contratos”, tenha de “pedir licença para uma coisa tão simples como poder ir à casa de banho” ou receba “pagamentos que são cortados e ninguém sabe porquê”.
Há também casos, apontou a dirigente do BE, de trabalhadores com “contratos selvagens” e que “ficam na não de intermediários, agentes, que cobram aos donos das explorações agrícolas”, mas depois não pagam aos imigrantes, deixando-os “ficar na imensa precariedade”.
“A economia portuguesa depende da imigração, seja na agricultura intensiva, seja para alimentar o turismo em muitos casos, e não podemos achar que temos um país sustentável maltratando as pessoa que mantêm o trabalho, a economia e têm direito a procurar uma vida melhor, como os portugueses também procuraram uma vida melhor quando isso foi necessário”, defendeu.
Mariana Mortágua apontou como soluções a melhoria da fiscalização das condições de trabalho, porque “há muita precariedade no trabalho em Portugal e a precariedade é maior quando as pessoas estão mais vulneráveis, não falam a língua, não conhecem as regras”.
Tem também de haver, segundo a dirigente do Bloco, “responsabilização sobre quem contrata”, porque “um dono de uma exploração agrícola não pode pagar um salário que é abaixo do salário mínimo ou um salário que sabe que é indigno e depois desresponsabilizar-se porque o intermediário ou o agente abriu uma empresa, fechou a empresa e desapareceu”.
“E o Governo tem de fazer a sua parte, uma parte deste problema e também a crise da habitação que afeta o país, e é preciso resolver essa crise da habitação, garantindo casas a preços dignos para toda a gente que precisa delas, seja imigrante, não seja imigrante”, disse ainda a mesma fonte.
A coordenadora do BE considerou que “há várias áreas em que é possível intervir”, mas alertou que não se pode “é ter a hipocrisia de contar com estas pessoas para alimentar a economia e a natalidade, de que Portugal tanto precisa, e depois não lhes dar o mínimo de condições para poder integrar-se e viver” no país.
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