A poucas semanas da 24ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP24), que terminou hoje na Polónia, os cientistas do Painel Intergovernamental Para as Mudanças Climáticas (Giec) fizeram soar o alarme, ao estimar que, num mundo com mais 2°C, objetivo mínimo do pacto climático, assinado em Paris, em 2015, os impactos serão bastante mais importantes que num mundo com 1,5°C, limite ideal do acordo.

Sublinharam, no entanto, que para permanecer abaixo dos 1,5°C, seria necessário reduzir as emissões de CO2 em cerca de 50% até 2030 em relação a 2010, enquanto os compromissos atuais dos Estados fazem prever, segundo os cientistas, um mundo 3°C mais quente.

Perante o alerta, muitas delegações, especialmente das ilhas vulneráveis, esperavam que, na 24ª Conferência do Clima da ONU (COP24), os países reforçassem os seus compromissos de redução de gases de efeito estufa até 2020, mas na conferência, os países empenharam-se principalmente em definir as regras que permitirão a implementação do acordo.

O manual de instruções, com uma centena de páginas, fixa nomeadamente as modalidades a seguir pelos planos nacionais e estabelece um acordo de alguma flexibilidade para os países em desenvolvimento.

Este manual de utilização "é suficientemente claro para operacionalizar o Acordo de Paris e isso é uma boa notícia", comentou a ministra do Ambiente espanhola, Teresa Ribera.

"Nas circunstâncias atuais, continuar a construir o nosso edifício já é uma vitória", acrescentou, ressalvando que gostaria que tivessem saído da conferência "mensagens bastante mais fortes" sobre a ambição do acordo.

Para Manuel Pulgar-Vidal, do World Wildlife Fund (WWF), os países "fizeram progressos", mas na Polónia, o ativista viu sobretudo uma "falta fundamental de compreensão da crise atual", lembrando que o Giec disse que há apenas 12 anos para poder agir.

"Esta falta de resposta ao relatório do Giec, é chocante", considerou, por seu lado, Jennifer Morgan, da organização ambientalista Greenpeace.

"Não é possível reunirmo-nos depois disso e dizer que não podemos fazer mais", acrescentou.

Para Jennifer Morgan, a decisão final da COP limita-se "a repetir o pedido de atualização" dos compromissos até 2020, já formulados no Acordo de Paris, sendo necessário "urgência numa ambição acrescida".

O tom sobre o reconhecimento das conclusões do Giec tinha já sido dado a meio do encontro, quando Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia recusaram inscrever, sobre as conclusões, a referência "acolhimento favorável" na declaração final.

O financiamento das políticas climáticas foi outra das preocupações manifestadas pelos países pobres, nomeadamente sobre a forma como será organizada a recolha de fundos prometidos pelos países do Norte a partir de 2025.

Os países do Norte prometeram passar a ajuda ao clima para 100 mil milhões de dólares até 2020 e alguns países como a Alemanha anunciaram novas contribuições, nomeadamente para o Fundo Verde.

O Banco Mundial prometeu 200 mil milhões de dólares para o período 2021-2025.

A 25ª Conferência da ONU sobre alterações climáticas (COP25) terá lugar em finais de 2019 no Chile.