As autoridades sul-coreanas estão a fazer os possíveis para localizar milhares de pessoas que podem estar potencialmente ligadas a um novo surto da covid-19 em Seul e que está a suscitar receios de uma "segunda onda de infeções". O processo está a ser dificultado devido à hostilidade contra os membros da comunidade LGBT na Coreia do Sul.
A Coreia do Sul tem sido amplamente elogiada pelos seus esforços para conter a pandemia, mas o país registou um novo aumento de casos ligados a uma zona de entretenimento de Itaewon, em Seul. O surto terá tido início no mês de maio, mais concretamente no fim de semana de 2 e 3.
As autoridades acreditam que o surto teve origem num homem, de 29 anos, que esteve em vários estabelecimentos noturnos de Itaewon, uma popular zona de entretenimento na cidade. Desde então, as autoridades já testaram 4.000 pessoas que estiveram nesse bairro, mas continuam à procura de mais 3.000. O processo está a ser mais complicado do que o normal porque Itaewon é conhecida pelas discotecas e bares populares entre a comunidade LGBT, de acordo com o South China Morning Post.
O tema da homossexualidade na Coreia do Sul não é aceite da mesma forma que nos países vizinhos Japão ou o Taiwan, tratando-se de uma cultura socialmente conservadora. E como os espaços noturnos são obrigados a perguntar pela identidade dos clientes, a maioria das pessoas opta por dar nomes falsos para entrar nos espaços — algo que pode dificultar a identificação.
Paralelamente, as pessoas estão relutantes em apresentar-se para testagem por terem receio de ser alvo de discriminação (perda do trabalho, discurso de ódio). Porém, para assegurar às pessoas que tal não sucede as entidades oficiais já disseram que a informação pessoal vai ser protegida e que a divulgação de informação será punida.
De acordo com o South China Morning Post, a Coreia do Sul tinha conseguido conter o número de novas infecões (menos de 15 por dia) desde meados do mês passado, o que levou a uma flexibilização das orientações no que toca ao distanciamento social. No entanto, o surto de Itaewon veio colocar em pausa a reabertura gradual do país.
Um movimento de defesa dos direitos LGBT criticou de forma veemente a comunicação social pelo modo como vários meios reportaram o assunto do surto nas discotecas. "Revelar a orientação sexual dos doentes acrescenta o estigma da doença à homofobia desenfreada na sociedade sul-coreana", afirmou. O movimento adiantou que este tipo de notícias só irá tornar a testagem e o isolamento mais difícil.
Num balanço feito esta quinta-feira, as autoridades responsáveis pela saúde no país afirmaram que pelo menos 20 casos de covid-19 estavam relacionados com o surto e outros 133 tinham links epidemiológicos a Itaewon. Desde o início do mês já foram testadas mais de 22.000 pessoas, das quais 1.200 seriam cidadãos estrangeiros.
Para conseguir localizar as pessoas as autoridades recorreram aos dados dos telemóveis e a cidade de Seul está agora a enviar mensagens em inglês para incentivar a realização dos testes de despistagem.
O número de mortes na Coreia do Sul relacionadas com a covid-19 subiu esta quinta-feira para 260, de acordo com a agência de notícias estatal Yonhap.
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